Enfim, O Pirata Chegou em Terra Firme.
A rota quando é previamente maturada e traçada no mapa náutico não tem erro, pois o destino é certo. Em terra o caminho percorrido de diligência descendo a Serra do Mar entre Curitiba e o Porto de embarque da caravela, batizada de “ferryboat” foi tranquilo.
Estranho apenas o intenso movimento de caravanas que subiam em direção à Capital. Acho que foi para a vigília de réveillon preparada para o Jararaca, atendendo o apelo do impoluto Haddad. Piada pronta. O mais certo deve ser que os veranistas desceram no Natal e retornaram porque o dinheiro acabou.
É a única explicação lógica. É melhor passar uma borracha encima disso e virar a página. Estou de férias da minha aposentadoria. Continuo a narrativa de viagem. O embarque na caravela ocorreu na maior tranquilidade, com todos os passageiros a bordo o capitão deu ordens para que os marujos retirassem as cordas que amarravam a embarcação no cais e com as velas desfraldadas a mesma foi deslizando mansamente sobre o azul do Oceano Atlântico, com pequenas ondas batendo no casco e a brisa do vento soprando e trazendo de longe o tímido e quase imperceptível canto das sereias.
Depois de uma viagem que durou longos meses no mar, vencidas as calmarias e algumas tempestades, e após enfrentar um galeão espanhol tripulado por corsários, que foi afundado após sangrenta batalha, finalmente avistamos terra e chegamos a Guaratuba. Fomos recepcionada com banda, guarnição militar, salvas de tiros e eu fui escolhido por todos os navegantes para receber a chave da cidade.
E como minha modéstia é pouca aceitei a honrosa indicação. E tinha motivos para isso. Foi o jovem alcaide do belo lugar que fez a entrega. Ele então me perguntou:
- O Senhor com certeza têm muitos dobrões de ouro para nos presentear, não?
- Sim, Senhor alcaide, trouxe os mesmos dentro de um baú que está bem guardado no porão da embarcação por quatro empregados de confiança. - respondi.
O alcaide vibrou com a resposta e de pronto mandou a banda tocar o hino da cidade. A recepção foi uma festa e como não poderia deixar de ser terminou num memorável almoço no “Restaurante da Tia Geni”.
Só consegui chegar à suíte de minha morada no meio da tarde.
- Que tesouro você trouxe para Guaratuba, que eu não sei? - perguntou minha mulher.
- O Alcaide se referiu aos dobrões de ouro que estão guardados no baú.
- Que dinheiro é esse que você está falando? Para quê?
- Ora, para pagar o IPTU do nosso imóvel; você sabe muito bem que desde que ele assumiu a prefeitura, o valor do tributo foi para as alturas! Só mesmo muitos dobrões para quitar o débito fiscal...
- Ah! Agora eu entendi.
E sentado na cadeira da área da casa, com o vento trazendo baforadas de calor abrasador, eu suando em bicas e sem vontade de entrar na piscina para não torrar, porque alguém lá em cima abriu o maçarico sobre a região, é que resolvi escrever esta crônica do último dia do ano.
E logo pensei em um homem que escolhemos para ser o nosso Presidente da República e que tomará posse amanhã à tarde, e passei a avaliar o peso que ele estará levando nos ombros.
Pois nós eleitores o escolhemos com a certeza de que saberá assumir o novo e honroso cargo respaldado nos valores morais que não lhe faltam e na sua formação militar, com o dever de devolver ao brasileiro o direito de sonhar, de viver em liberdade e de acreditar nos valores de nossa Pátria. Tarefa hercúlea bem sabe.
Oxalá que o Novo Ano seja o início de um Novo Tempo para que nossos filhos e netos possam se ufanar de serem brasileiros e viver com qualidade de vida dentro de um país soberano, ordeiro, próspero e com o povo unido para a felicidade de todos. Com certeza é tudo que mais desejamos para o Ano Novo. E agora só nos resta dizer: Adeus 2.018; e seja bem-vindo 2.019!
E o velho pirata aqui, na sombra da varanda, ficará de olhos abertos e bolso vazio: IPTU é caro demais “seo” alcaide, por isso seu pai quase foi para o brejo...
“Na crônica do último dia do ano vale tudo: é uma miscelânea de fantasia, realidade e esperança. Tudo reflexo de uma imaginação criativa e irreverente, onde vale tudo, menos ser infeliz.
E que venha 2.019: ano de esperanças e renovações!”
Edson Vidal Pinto