Enfim, Rumo ao Himalaia!
Preparadíssimo! Sim, esta a palavra correta para explicar o meu atual estado físico e psicológico para enfrentar a grande aventura da minha vida, vou escalar o Everest, o Teto do Mundo.
Depois dos meus exames cardíacos, fiz nestas últimas três semanas a minha preparação física na Academia do Coração, do Hospital Costantini, sob-rigorosa orientação do fisioterapeuta-chefe Dr. Rafael e de seus competentes auxiliares, com repetidas esteiras, alongamentos, exercícios em máquinas, tomei muita água, suei e aprendi a respirar usando máscara de oxigênio.
Para meu treinamento e abusando da amizade e hospitalidade do Dr. Valeixo, ele permitiu que eu dormisse sozinho, no prédio da Superintendência da Polícia Federal, no piso de baixo onde está o preso o Luiz Ignácio, para poder me aclimatar às condições térmicas de Katmandu, cidade do Nepal.
Foi uma noite terrível, gelada, solitária, mas valeu a experiência. Sai de lá penalizado com a situação do pobre do Luiz Ignácio, o injustiçado “preso político”. Para suportar a longa caminhada pela montanha, dei uma volta completa no Parque Barigui, batendo meu próprio recorde. Peguei minha mochila que estava esturricada no fundo do armário da garagem, do tempo em que eu era escoteiro, e coloquei dentro dela tudo que é necessário para a grande escalada: sardinha em lata, macarrão miojo, bolachas, chocolate e roupas compradas na Casa Hering, para pagar em cinco vezes.
Agasalhos suficientes para enfrentar grandes tempestades e baixíssimas temperaturas.
Os óculos escuros comprei de um camelô que faz ponto na Rua XV, segundo ele, ótimo para a claridade de sol muito intenso. A viagem toda será patrocinada pelo Yussef, um doleiro sério e honesto que está querendo se redimir de seus inúmeros pecados. Aceitei porque acredito na sua idoneidade.
Ah! Esqueci-me de dizer que minha botina eu comprei na Casa Schier, pela sua conhecida durabilidade; e a luva de lã eu adquiri na feirinha do Alto São Francisco. Conferi todos os apetrechos e não está faltando nada. Exceto marcar a data para o embarque, esta ainda não está definida. Ando com preguiça para caminhar por muito tempo, além do mais não suporto o frio e nem ficar muito tempo sem assistir a “TV Justiça”. Gosto de ver e ouvir o Gilmar para dar muitas gargalhadas.
E quando o Toffoli aparece na telinha eu entro em êxtase. Acho que vou deixar passar o inverno de nossa República para viajar e escalar a montanha, é bem melhor no verão e precisa de menos agasalho. Vou para me divertir e não para fazer muito esforço.
Ademais, tem outro empecilho, vou contratar de guia o Waldemar Niclevicz, mas ele não para de escalar, parece até que tem bicho carpinteiro. Enquanto espero, com tudo pronto,fico sentado na minha poltrona favorita, lendo. Arre, só de escrever e pensar na aventura que tenho pela frente me dá vontade de cochilar.
Putz, será que eu vou poder cochilar quando estiver lá no alto do Everest, na “Zona da Morte”? Não tinha pensado nisto, estou começando a ficar preocupado. Também não estou gostando do ventinho gelado que está soprando por Curitiba. Pensando melhor acho que vou desistir da minha viagem. E vou mesmo, sem cerimônia. Pena será desperdiçar todo o preparo físico que eu fiz nestas três últimas semanas.
Odeio minha inconstância nos projetos que faço. Tenho que admitir que também seja humano, falível e imperfeito. Já que resolvi não viajar para escalar o Everest, antes de dar uma boa cochilada, nada melhor neste momento do que tomar um bom copo de leite, com bolacha de mel e depois me enrolar num cobertor, confortavelmente sentado na minha amada poltrona.
Claro, sem deixar de pensar um só minuto, no pobre do Luiz Ignácio que está apenas no início de sua escalada, para poder então sair do frio amargo de sua prisão...
Enfim, cada um colhe o que planta!
“Cada ser humano se aventura onde quiser. Uns preferem a zona de conforto; outros a “zona da morte” lá no Everest; e alguns o caminho mais curto para a prisão. Afinal, cada um é dono do seu próprio destino! ”
Edson Vidal Pinto