Engana-Me: Que Eu gosto!
Li alhures que o impoluto Presidente Temer num pronunciamento à nação, disse que “domada a inflação e podendo o povo comer melhor, vestir melhor, pagar sua prestação da casa própria melhor, é hora de disciplinar as aposentadorias com regras iguais para todos!”
Fiquei louco de feliz por saber agora que o custo de vida diminuiu; agradeci de joelhos o milagre desse governo honrado. Aliás, se eu tinha uma certeza na vida era sempre dizer que só um governante probo e cercado de uma equipe de homens públicos acima de qualquer suspeita, encontraria facilmente a saída para o país mergulhar na prosperidade.
E o Temer tanto garimpou com o seu PMDB pelas profundezas do seu rio Tietê, que conseguiu a façanha inédita de sair limpo e saudável para salvar o Brasil.
- Meu bem, já que você não está fazendo nada, poderia ir até o Angeloni comprar feijão, batata e sardinha em lata?
Puxa, quando eu estava eufórico com a notícia que acabara de ler, fui interrompido para fazer compras no supermercado. E como bom cabrito não berra, peguei meu carro e fui às compras. No caminho a felicidade voltou porque a inflação foi embora, sumiu! Pensei com meus botões: ainda bem que minha mulher não veio junta, pois hoje vou comprar tudo que estiver na minha frente.
O Presidente disse que os preços baixaram. Eu tive até vontade de beijar o Temer, vez que meu salário anda pela hora da morte e eu tenho que fazer uma mágica atrás da outra para esticar meu dinheirinho. E quanto mais pensava nisso parecia que gotas de pequenas lágrimas brotavam do canto dos meus olhos.
Cheguei no Festival (Putz minha emoção era tanta que errei até de supermercado) e após estacionar meu Fiat 147, logo peguei o carrinho do supermercado, o maior de todos, porque não queria que faltasse lugar para as compras. Guiei meu carrinho no interior do estabelecimento com toda desenvoltura, cheguei a fazer curvas fechadas com toda segurança e quando parei na frente dos pacotes de feijão e vi os preços estampados senti meu sangue gelar.
Tinha alguma coisa errada: o quilo de feijão estava na estratosfera! Fui reclamar para o gerente. Ele riu da minha cara. O preço da sardinha em lata estava beirando o valor de um pequeno vidro de ovas de esturjão. A batata parece que tinha sido importada de Nova York.
Comparei os preços dos demais produtos e fiquei com dor de barriga. E pensar que o Temer garantiu que a inflação foi banida. Tive vontade de dizer um palavrão. Felizmente me contive. Cheguei ao caixa preferencial empurrando um carrinho que parecia um caminhão transportando um “micróbio” de compras. Olhei para trás e vi um bando de velhinhos segurando os lábios para não cair na gargalhada.
Eu era o alvo: tudo porque acreditei no homem! Sai do local com cara de cão sem dono, tive vontade de sumir do planeta. Voltei para casa e entreguei a “compra” para minha mulher. Ela notou minha cara de decepção.
- O que aconteceu, meu bem?
- Nada (respondi com cara de vão de cerca), li no jornal que o Governo vai mexer com a aposentadoria...
- E daí?
- Eu acho que vou ter que voltar a trabalhar para nós podermos comer sardinha em lata, pelo menos uns quatro dias por mês!
“Político quando abre a boca é para mentir. Para eles as palavras existem para iludir a boa-fé dos incautos eleitores. Estes não se emendam: pois gostam de serem enganados!”
Edson Vidal Pinto