Era “Alemoa” ou “Polaca”?
Os novos tempos acabou com a carroça de tolda puxada por cavalo, tendo na boleia uma “alemoa” ou uma “polaca”, que percorria de ponta a ponta a cidade vendendo frutas e legumes. Elas vinham das periferias trazendo produtos de suas viçosas hortas para gáudio das donas de casa curitibana. Falavam pouco, tinham sotaque carregado que não escondia suas origens, quase sempre com um lenço branco amarrado na cabeça para não aparecer os cabelos e na maioria das vezes estava sozinha e em outras acompanhada do marido ou de algum filho menor.
Elas representavam a força viva do trabalho em uma época que as famílias eram de produção e não apenas de consumo. Ah, que saudades; eu via essas mulheres quando minha irmã me levava para escola - no Grupo Escolar Alba Guimarães Plaisant -
e ela cursava a Escola Normal do Paraná, estabelecimentos de ensinos que funcionavam no mesmo prédio da Rua Emiliano Pernetta.
E minha irmã estudava para ser professora (e foi uma destacada educadora em Paranaguá) e quando voltava para casa falava com muito entusiasmo de seus professores, tanto que eu ao me deparar com qualquer deles pelos corredores do velho prédio sabia reconhecer e dizer seus próprios nomes. Foi por inúmeras vezes que vi descendo a escadaria frontal da Escola, a Profa. Helena, irradiando simpatia e sempre acompanhada de suas alunas que além de suas discípulas eram suas admiradoras.
E ontem à tarde quando sentei na poltrona do escritório e vi os livros da estante, peguei um deles e por coincidência tinha em uma das páginas uma belíssima poesia da saudosa Profa. Helena, cujo título é “carroça de Tolda”, que vou transcrever em homenagem a este mulher eleita pelo Criador, que deixou no seu rastro versos que simbolizam a sensibilidade da alma humana e traço marcante da cultura paranaense:
“Cedo, a carroça
já vai na estrada.
Vai a parelha
bem ajaezada.
Franja de guizos
pela estrada ...
Cantam os guizos
na madrugada.
Parece, a tolda,
lenço de lona.
De lenço branco
vai a colona.
Pelo arvoredo,
há uma neblina,
que é um alvo lenço
de musselina.
Rosto curtido,
mão calejada,
guia a colona
lenta e calada.
Geme a carroça
tão carregada!
Cantam os guizos
na madrugada ...”
Como era doce e sensível a Profa. Helena Kolody quando perpetuou nos seus versos a passagem das “alemoas” e das “polacas”
conduzindo suas carroças de tolda de encerado pela Curitiba de ontem. Em tempo de pandemia e horrores faz falta ler textos que nos transportem para o imaginário -, daí esta humilde contribuição para ler e refletir, enquanto a tempestade não passa ...
“Como fazem falta os poetas quando estamos envoltos na tempestade de medo. Porque são seres ungidos pelo Criador, pois fazem versos que refletem temas do cotidiano: amor, sonhos e esperanças, todos ingredientes necessários para nos afastar das incertezas. Na herança de suas obras sempre flui o amor pela vida, pelo próximo e para Deus!”
Edson Vidal Pinto
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