Era uma vez no velho oeste
Na minha meninice aproveitei muito as aventuras que a minha imaginação criava, foi quando combati grandes batalhas, enfrentei piratas, índios e bandidos que saqueavam os colonos; percorri pequenas cidades de casas de madeira tosca e ruas de pó; vi diligências atravessando pradarias e também o pelotão do Sétimo Regimento de Cavaria do Gal. Custer.
Em cada um destes momentos fui de tudo um pouco -, Búfalo Bill, Capitão Blood, Robin Hood, John Wayne, Alan Ladd, Hopalong Cassidy , Roy Rogers e Eliot Ness. Mas o que eu mais gostava era percorrer a cavalo as montanhas da Califórnia, atirar contra os bandoleiros e perseguir os assaltantes de bancos; perfilei nas tropas do Presidente Lincoln na Guerra Civil e lutei contra os confederados acreditando que nenhum negro poderia ser escravizado. E disso tudo eu sabia bem antes de aprender a História do Brasil, porque desde menino eu era fascinado pelos filmes americanos que mostravam os seus heróis como homens invencíveis e perfeitos. Ah, e quantas vezes estive nas carroças ocupadas por famílias de lavradores nas caravanas que partiam do leste para desbravar o oeste norte-americano e colonizar suas terras.
Por diversas vezes me vi assistindo missa nas igrejas evangélicas construídas nas regiões menos inóspitas da região. Certa vez fui ao Rio Colorado em busca de ouro, depois ao Texas onde trabalhei como cowboy em uma fazenda. Também conduzi diligência, duelei e joguei cartas nos sallons. Agora imagine você: eu com toda esta empolgação de aventureiro ter sido há sete anos convidado pelo Governo dos EEUU, para uma viagem de estudos e troca de ideias com juízes americanos sobre o sistema prisional de nossos dois países.
Antes mesmo de arrumar minha mala procurei nas áreas de guardados de minha casa meu revólver de espoleta e minha velha cartucheira de couro, pois eu queria enfrentar na rua de alguma cidade do oeste americano com o primeiro pistoleiro que estivesse disponível. Mas minha arma tinha se perdido no passado. Não me dei por vencido e fui ao Shopping Barigui comprar um revólver de espoleta com uma cartucheira. Entrei em uma loja de brinquedos e fui informado que não vendiam armas porque elas influenciam na formação das crianças, tornando-as violentas e propensas ao crime.
Ouvi, mudo e calado. Se eu dissesse que me criei brincando de mocinho e bandido manuseando todo tipo de arma de brinquedo, com certeza a balconista teria chamado à polícia. Fiquei frustrado. Viajei sem levar um mísero revólver de plástico na mala; e se encontrasse com um Apache no território americano seria escalpelado.
Fiquei uma semana em Washington —, a correria foi intensa que não tive tempo para pensar nos meus devaneios. Mas quando soube que ficaria uma semana no oeste americano, na cidade de Sacramento, capital da Califórnia, meus olhos brilharam. Enfim eu iria conhecer o território onde minha imaginação me tornou herói e vilão.
Enfim eu iria pisar na cidadezinha típica do faroeste, mostrada nos filmes de Hollywood e nos gibis, onde o xerife combatia pistoleiros para manter a lei e a ordem. No avião eu lembrava das cenas de tiroteios, dos cavalos, das carroças, da cidade com uma única rua onde a violência estava presente em cada metro quadrado. Era para essa cidade que eu estava indo; só então lembrei que estava desarmado.
Quando o avião parou na pista, eu estava ofegante, com as mãos suadas e com medo de descer. Levei instintivamente a mão direita na cintura e não encontrei meu revólver de espoleta. Quando sai do aeroporto e deparei com o porte da cidade, uma colossal metrópole, com largas avenidas, prédios altíssimos, gente andando por toda a parte, automóveis, lojas espetaculares, ônibus elétrico e tudo que não existia na minha imaginação de cinéfilo, cristalizei.
Minha primeira impressão foi que roubaram a cidade dos meus sonhos, pois não tinha um único cowboy nas ruas, nem cavalos e muito menos diligência. Só cai na real e voltei a raciocinar quando lembrei que o governador do estado era o Arnold Schwarzenegger, que com certeza com um único revólver de brinquedo chegou antes do que eu e matou todos os malfeitores e peles-vermelhas da cidade. Só então foi que me senti seguro e respirei aliviado...
“Quanta lembrança de criança guardei no baú de minha existência; brinquei e aproveitei com tudo que tinha direito. Usei armas de brinquedo de todos os tipos e tamanhos, minha imaginação me conduziu para outra dimensão, onde a imperava a inocência. Não existia censura que não fosse do pai e da mãe e muito menos psicólogos para castrar os sonhos da infância!”
Edson Vidal Pinto
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