Esquina do mundo
Não importa quantas vezes o turista tenha ido à Nova York, a cidade é repaginada diariamente. A sensação que fica impregnada na alma do visitante é a de que a cidade tem trilha sonora e cantor próprio em todos os lugares, a música que dispensa apresentação é interpretada pelo inesquecível Frank Sinatra. Cada cenário tem a mesma sonoridade como um filme em que o turista é o personagem. Na Time Square parece que as pessoas de todas as nacionalidades, cor, religião, trajes e costumes marcaram encontro para se conhecerem. Ali tudo acontece sob o brilho das luzes, dos luminosos dos comerciais, das lojas, teatros, táxis, do ar gelado do outono que inicia e do vai e vem incessante de transeuntes.
Diferente de nossa cidade, Nova York é um canteiro de obras públicas, quase todas as ruas estão em reparos e a cada quadra a gente vê passar um ou dois carros de polícia para preservar a segurança de todos. Cidade de fácil deslocamento pela simplicidade da numeração das avenidas e ruas, basta lembrar os números estampados nas placas dos cruzamentos das vias para saber a exata localização e o ponto que se pretende chegar. Rua com nome próprio sempre é difícil de ser lembrada e um suplício para os turistas. A efervescência maior sem dúvida é a eleição presidencial americana que toma conta das televisões, com debates e notícias sensacionalistas de ambos os candidatos. Em conversas com taxistas parece que a Hilary tem a preferência popular apesar da desconfiança sobre a sua futura atuação na presidência. Na cidade nenhuma propaganda dos candidatos. Prova inequívoca de civilidade.
Dentre tantos lugares percorridos a visita obrigatória, pelo menos para mim, é o Empire States Building. Não apenas pela grandiosidade do prédio construído no início do século passado, nem pela vista espetacular de toda a ilha, mas pela história de cinema. E lá vou eu dando asas a minha imaginação! Minha expectativa de subir aqueles cento e dois andares (de elevador é claro!) era a de poder encontrar no alto da antena o King Kong tendo nos braços a frágil mocinha do qual estava enamorado, tentando fugir das rajadas de tiros disparados por aviões de duas asas. A fila de visitantes era enorme. Pensei: será que toda essa gente quer ver o macaco? Será que sobrará espaço para mim? Frustrado quando cheguei à Fontana Di Trevi, em Roma, e deparei com uma multidão de chineses, japoneses e afins tirando fotografias e compondo um muro humano que não me permitiu ter a melhor visão do lugar, quase desisti do meu intento. Mas prevaleceu minha vontade de estar cara a cara com o King King!
Paguei o ingresso e subi. Na primeira parada no octogésimo segundo andar, onde é possível andar no terraço ao ar livre, lá estava ele: King King! É verdade, nas paredes estavam estampadas as fotografias do filme rodado em 1936, com cenas do gorila pendurado nas janelas do edifício, a mocinha em um de seus braços e os aviões se aproximando. Fechei os olhos e na minha mente passou todo o final do filme, até senti um friozinho na espinha quando o imenso gorila, ferido mortalmente pelos disparos das armas dos aviões, deixou a mocinha sã e salva no teto do edifício e caiu na rua. Só depois admirei o panorama da cidade visto de cima. O rio Hudson, a Ponte do Brooklin, a Estátua da Liberdade, e o monumental e simbólico edifício construído para lembrar o fatídico 11 de Setembro. No centésimo segundo andar o lugar é hermético, fechado e de pouco espaço, onde a cidade é vista apenas através de janelas de vidros de grossa espessura.
Nova York é a cidade dos sonhos e do poderio econômico americano, ela nunca dorme, pode ser traduzida como a maior e mais agitada esquina do mundo. Ninguém dentro dela consegue alcançar a riqueza e prosperidade senão pelo trabalho árduo e profícuo. Bem diferente daqui, não é mesmo?