Estas Empregadas!
Claro que tem muito besteirol no Facebook porque é uma via que se assemelha a uma colcha de retalhos, - serve para gregos e troianos preencherem seus espaços como bem quiserem. Uns com inteligência e oportunismo e outros meros aproveitadores das colagens alheias.
Estes últimos nem sempre primando pelo melhor entretenimento. Mas por homenagem a democracia vale tudo e quem não gostar do que foi veiculado o melhor é ignorar e seguir em frente.
Ofender quando não se gosta de algumas postagens é demonstração de desapreço e má educação. Afinal ninguém é dono da verdade e como dizem por aí: a unanimidade é burra. Diariamente procuro ler os textos inteligentes do meu amigo Marcos Lacerda Pessoa pela sua verve literária e perspicaz dos fatos do cotidiano, que ele sabe como poucos transportar para seus escritos.
E não é porque sou atraído pela sua fidalguia e notória cultura, nem pelo fato de termos trabalhado juntos na gestão do Jaime Lerner no Governo do Paraná, mas porque gosto do seu estilo sintético de escrever a verdade e no primor de seu requintado humor. E é deste que quero falar. Sempre com o título “Pérolas da minha diarista” o conceituado escritor tem nos brindado com monólogos pitorescos de sua diarista imaginária ou não, mas que leva o leitor a imaginar a situação que ela enfrenta para as “pérolas” que diz e que causa muito riso.
Pois a referida serviçal tem “tiradas” simples e inusitadas. E isto me fez pensar na “secretária” da minha mulher que trabalha aqui em casa há mais de vinte e dois anos -, ela acha que sabe de tudo, faz tudo e não gosta mais de ser mandada.
Ela tem prenome daqueles antigos que ela odeia - Nelina - e só atende quando lhe chamam de Mariza. Seu temperamento depende do dia, da hora ou dos minutos por ser do tipo esquizotímico - vai da euforia ao “emburramento” - na velocidade de um raio. Eu sou muito reservado no trato porque ela fala muito e quando entra numa conversa esquece-se de tudo e até do tempo. Tem uma força de Sansão e sempre está disposta para trabalhar e é um perigo no manuseio de objetos pequenos e frágeis.
Minha mulher de vez em quando sempre encontra alguma coisa quebrada e consertada com cola Superbond. E quando descoberto o crime ela nega peremptoriamente a autoria. E apesar de seus noventa e poucos quilos ela é modelo fotográfica dela mesma, fotos que ela coloca à disposição dos amigos no WhatsApp.
Parodiando o Marcos eu poderia escrever mil histórias com o título:
“A empregada lá de casa e seus animais folclóricos”. Sim, porque ela vive para seus dois animais domésticos: o cachorro de nove raças em uma só: o Luiz Eduardo ou Dudu para os íntimos; e um gato de rua que ela adotou: o Mimo.
Ela mesma conta que de manhã, quando vem trabalhar encontra no ônibus outras empregadas, todas se conhecem e conversam entre si:
- Ontem o Luiz Eduardo aprontou horrores...
- O que ele fez Mariza?
- Roeu a ponta do meu sofá!
E ela mesma dá risada porque os passageiros que não conhecem ficam imaginando que tipo de pessoa deve ser este tal de Luiz Eduardo. Com certeza um troglodita!
Ultimamente estava preocupada com o Mimo, um malandro de rua que não perdeu o hábito noturno de frequentar as “bocas”.
Ela deixa uma janela pequena aberta, do banheiro da sua casa, onde o gato sai à noite e volta quando a noite está se despedindo. Dias atrás ele deve ter participado em uma briga daquelas e chegou em casa todo retalhado.
Ela levou para o veterinário que fez umas quatro suturas no bichano e receitou medicamentos para evitar a inflamação. E cobrou honorários que doeu no bolso.
Quando ela foi comprar os remédios na farmácia e constatou o alto custo dos mesmos, ela telefonou para minha mulher e disse:
- A senhora sabe de uma coisa?
- ?
- Não vou comprar remédio nenhum para o Mimo; só vou dar água e comida! E se o sem-vergonha quiser farrear e morrer por causa dos ferimentos, o problema será dele. Exclusivamente dele! Não vou gastar nenhum tostão com um gato mulherengo!
Minha mulher ouviu e nem se atreveu a dar palpite, porque a dona do gato estava possessa. Pois é, daria para escrever um livro divertido contando as
peripécias da empregada da minha mulher; fico só imaginando se ela conhecesse a diarista do Marcos.
Seriam um diálogo entre as duas recheadas de peripécias. E como consequência acha que nós dois poderíamos escrever sobre as duas, mais livros do que escreveu para o mundo a profícua e extraordinária Ágatha Christie...
“Em todos os tempos a emprega doméstica representa um alívio para a dona de casa, pelo trabalho rotineiro que presta. Mas não é fácil a convivência pois a empregadora tem que engolir sapos todos os dias. Tem muita sapiência o ditado que diz: “Melhor com elas; pior sem elas!”
Edson Vidal Pinto