Eu, Testemunha!
Ontem, 10 de janeiro, terça feira.
Nos meus 59 anos vividos intensamente na vida pública, não só presenciei fatos acontecidos como também testemunhei muitos deles ao longo do tempo. Assisti bons e maus episódios, alguns tão sórdidos que procuro sepultar para não criar constrangimentos. Sempre avaliei o caráter do governante e de seus assessores pelas atitudes e consequências. O pior deles é o tipo poltrão, aquele que é arrogante, não tem freio inibitório, tem língua afiada e comportamento dúbio. Vence pelo temor e o ódio.
É assecla do velho ditado "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço"!
Convivi com Jaime Lerner nos quatro primeiros anos do seu governo, pois fui o seu Secretário da Justiça, e aprendi a admira-lo pela simplicidade e refinada educação. Nunca vi e nem ouvir que tivesse alterado seu tom de voz ou se prevalecido pelo cargo que ocupava. Defeitos? São muitos, porque ninguém é perfeito.
Erros? Igualmente, porque a falibilidade é humana. Claro que ele angariou inimigos e adversários porque gostar ou não faz parte da própria política. Obvio que enfrentou dificuldades para governar o Estado, tarefa do qual era inexperiente porque como urbanista e administrador de cidade a tarefa de Chefe do Executivo estadual tinha uma bagagem sem nenhum lustro. Neófito na acepção do termo. Foi com sua criatividade privilegiada que ele ditou e planificou a industrialização do Paraná. No período de sua administração não houve violência nos protestos, nem nas greves e muito menos rebeliões em presídios.
A maior dificuldade foi conviver com os políticos e costurar convivência com a Assembleia Legislativa, cujo comando era exercido por Aníbal Khoury. Na esfera federal os Senadores paranaenses torciam para que nada desse certo. Todos eles de olhos fixos no cargo de governador. Não pretendo defender as ações governamentais encetadas por Lerner e muito menos modificar a opinião do leitor com relação ao seu período de governo. Cada um permaneça com o ponto de vistas que quiser sem modificar uma vírgula se foi boa ou não a sua administração.
É para conhecimento público que conto o episódio do qual testemunhei e protagonizei. Dias depois da posse solene ocorrida nos fundos do Palácio Iguaçú, época em que havia o devido respeito ao titular da Pasta da Justiça ( a Secretaria mais antiga) porque após empossado o Governador deu posse ao Secretário da Justiça e este juntamente com o Governador deram posse ao Secretário Chefe da Casa Civil e demais Secretários de Estado, foi marcada a primeira reunião do Secretariado. O lugar escolhido foi o chamado "Chapéu Pensador", construção localizado no Bosque da Copel da Rua Padre Agostinho.
O tema único foi a abordagem da situação caótica em que se encontrava o Banco do Estado do Paraná (que de há muito vinha captando dinheiro do Banco Central) e das dívidas astronômicas que o Erário não tinha condições de honrar. O principal protagonista do encontro foi o saudoso Secretário Miguel Salomão (funcionário requisitado do Banco Mundial) e que no governo era o Secretário de Estado do Planejamento, que fez uma longa e minuciosa exposição da péssima situação financeira herdada pelo novo governo.
Dai a pergunta do Jayme para os membros de sua equipe: o que fazer? Denunciar publicamente através da Imprensa ou absorver tudo e buscar empréstimos no exterior? A pedra de toque se resumia no seguinte: se admitirmos que o Estado estava quebrado , nenhum banco daria empréstimo e sem ele não teria como como quitar as dividas. A paralisação seria desastrosa para um governo que dava seus primeiros passos.Contudo se a situação de penúria econômica prevalecer ignorada, o crédito com certeza será disponibilizado e com ele dará para movimentar as engrenagens da administração.
E como os senhores votam? Arrematou o governador. Naquelas circunstâncias prevaleceu o bom senso e a recomendação foi a de que seria melhor obter os empréstimos do que sepultar politicamente o antecessor do cargo. Confesso que fui um dos votos vencidos! Minha ótica de Promotor de Justiça não me permitia enxergar de maneira diferente. Passado longos anos deste fato eu apenas registro como parte da história que não foi levada ao conhecimento público e para que não se perca a sua verdade.
Eu testemunhei e dou fé!