Fábula Moderna
As vezes fico imaginando como é que na Grécia antiga Esopo escrevia suas maravilhosas fábulas que foram perpetuadas ao longo das civilizações para servirem como verdadeiras lições de ética, moral e vida.
Talvez inspirado na magia azulada do mar, ou admirando do alto do morro do Acrópoles a bela cidade-estado de Atenas, ou quem sabe ouvindo comentários políticos do povo na área pública da praça do mercado onde anualmente ocorriam as eleições democráticas para renovar o quadro de dirigentes públicos. Claro sem olvidar de sua prodigiosa mente criativa que fazia os animais virarem gente nas telegráficas histórias que contava, todas elas espetaculares pois são aulas de um bom viver.
Sem qualquer pretensão vou tentar escrever uma só fábula para registrar o panorama patético de um período da história abatida pela pandemia de um vírus que as vacinas não arrefecem por absoluta ineficácia.
A cor do mar continua azul mas com garrafas de plástico e lixos das mais variadas origens flutuando em grandes quantidades entre as ondas e o Acrópoles não passa de ruínas para turistas visitarem. Sem esquecer das nuvens negras que anunciam o terror de uma guerra entupida entre Rússia e Ucrânia, não servindo a ONU para absolutamente nada. Claro que a fábula que me atrevo a escrever não pode esconder este cenário de tristeza. “O Pior Exemplo Também é Seguido”.
Este é o tema e agora vamos a tão esperada fábula. Em 1.935 existiu um bom homem chamado Al Capone, exemplar chefe de família, respeitado e amado pelos seus admiradores todos eles cidadãos acima de qualquer suspeita, apreciadores e colecionadores de bebidas destiladas. Só que um estraga prazer que presidia o país resolveu proibir a comercialização dessas bebidas.
Claro que isto revoltou Capone que saiu em defesa da população contra ordem tão absurda ditada por um déspota. Justiceiro e com boas intenções combateu com metralhadora em punho os agentes da lei que tentavam impedir a sua boa ação. Claro que matou muitos para não morrer.
O justo as vezes tem que usar de excessos para combater as injustiças. Ficou milionário e sua “família”também. Mas infelizmente porque esqueceu de pagar imposto de renda foi condenado e preso injustamente. Um homem bom que morreu doente. Dezenas de anos depois apareceu no cenário um homem honestíssimo chamado Luiz Ignácio, também degustador emérito de um bom destilado, que por ser verdadeiro em tudo que faz conseguiu arregimentar pessoas de fino trato, educação esmerada e cultura invejável para combater uma tal Democracia, um bruxa que queria uma sociedade onde as pessoas tivessem igualdades de oportunidades.
Dita mulher tinha como defensor um capitão autoritário e notório ladrão que vivia saqueando diariamente o erário publico. Claro que o Luiz Ignácio que nunca roubou e nem admitiu que algum amigo seu roubasse declarou guerra de fofocas e intrigas contra seus nojentos adversários.
Só que ele enriqueceu e sua família também sem saber explicar como isto aconteceu, inclusive ganhou (sem saber) um triplex e um sítio de admiradores anônimos. Foi injustamente acusado de extorsão ou corrupção passiva mas felizmente foi salvo pelos seus afilhados de um tal STF. Antes disto foi preso como todo bom mártir que defende causas morais.
Mas felizmente está solto, namorando, de bem com a vida, viajando pelo mundo afora as custas dos Contribuintes e o único probleminha é que não pode sair na rua sem ser solenemente xingado. Culpa exclusiva de gente obtusa e maldosa que insiste em não conhecer o seu valor de ótimo cidadão. E segundo a DataFolha já está eleito Presidente do Brasil. Apesar de encharcar o fígado com tanta pinga tem uma saúde de ferro. Será “ovacionado” com certeza no dia da sua posse. Ri por qualquer coisa, porque rico ri a toa.
Esta a fábula que terminei de escrever. Legal, não ? O Al e o Luiz não são parecidos ? Não me refiro ao aspecto físico mas no modo que escolheram para viver? São ou não são dois heróis de seus respectivos tempos ? Agora compare o título da fábula e veja se não é a mais deslavada verdade. Claro que é. E o ensinamento ético e moral está nas entrelinhas das duas biografias : “quem nasceu ladrão, morre ladrão”.
Pronto, deixo escrito esta pequena fábula para os arquivos de meus escritos domingueiros, dia destinado ao ócio e de não pensar em coisas sérias…
“Eu e o Esopo não temos nada em comum, ele grego e eu brasileiro, ele um gênio e eu a lâmpada. Mesmo assim consegui terminar uma fábula que também tem um fundo moral. Não sou pretensioso, as vezes sou um simples debochado.”
Édson Vidal Pinto