Falando Sério.
Ontem, 19 de janeiro, quinta feira.
Todo o profissional linha de frente consegue auferir ao longo do tempo, bagagem de experiências e conhecimentos que se prestam muito bem como os melhores currículos para serem ótimos orientadores , instrutores e professores.
É na trincheira que o ser humano molda seus melhores conhecimentos e tiram as suas mais importantes lições. Os títulos acadêmicos de pós-graduação, mestre, doutor ou pós-doutor se prestam exclusivamente para o conceito universitário, imposição que pretendia melhorar e qualificar os Cursos Superiores. De alguns anos para cá a exigência dessas titulações foi imposta pelo MEC, para o fim de liberar e autorizar a regularizações de faculdades. Especificamente na área das Faculdades de Direito, que proliferam como ervas daninhas nas piores lavouras, essa prática está sendo levada a sério e na ponta do lápis.
Engraçado que na nossa conceituada Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, os melhores mestres não tinham nenhuma graduação além de serem bacharéis em Direito. Um deles repetia sempre que não chegara nem a participar de cursinhos de extensão. Mas foram professores com "P" maiúsculo. O mesmo ocorreu na PUC e na Faculdade de Direito de Curitiba.
Eu próprio sou "cria" daquela época, onde os professores ensinavam e os alunos aprendiam. Havia um clima de mútuo respeito e ordem. Hoje os professores são rotulados de títulos acadêmicos, são limitados na arte de educar, muitas vezes folclóricos com seus estilos extrovertidos, são decoradores de textos impressos em livros e de linguagem vulgar e palavras grosseiras. Claro que existem exceções, raras exceções.
E por que digo isto? Porque no ano passado recebi inúmeros convites para fazer palestras em eventos universitários, não tendo recusado nenhuma delas por entender que ainda posso ser útil aos futuros profissionais da área jurídica. Vestindo a beca de cinto vermelho do Ministério Público e a Toga de Magistrado foram ao todo quarenta e sete anos dedicados ao ofício da Justiça. Creio que suficiente para contribuir com o aprendizado de jovens acadêmicos. Fiquei atônito com o que presenciei em algumas destas faculdades! Alunos na maioria desinteressados, apáticos, vestidos como se estivessem à beira de uma piscina, com camisetas regatas, shorts desbotados, chinelo e sem portarem nenhum livro, caderno, mala ou caneta. As mulheres não destoavam desse modelo.
As professoras presentes não tinham nenhuma presença e os alunos se dirigiam a elas como parceiras de longo tempo. Conclui que o respeito tinha passado ao largo daquele complexo universitário famoso e fisicamente muito bem construído.
E não foi diferente em outras faculdades de menor expressão e aporte econômico. E cada ano que passa centenas de outros bacharéis recebe o diploma de grau e tentam entrar no difícil mercado da Advocacia. Nem o exame da OAB consegue frear a má qualificação de novos profissionais, que nem sabem se apresentar e nem se comportar nos ambientes forenses.
Nestes, aliás, muitos Juízes têm dado o pior exemplo com trajes incompatíveis à respeitabilidade da Justiça, alguns como verdadeiros marqueteiros que usam até do WhatsApp e de amigos da Imprensa para poder se autopromoverem.
Dias atrás, no Setor de Mediação do TJ onde atuo um jovem advogado, mas pós-doutor em Direito, sócio de um escritório de um ilustre jurista e autor de livros, apresentou-se na audiência de bermuda. Não aguentei e lhe disse:
- Doutor, o Senhor não está em sua casa. Esta é uma repartição do Poder Judiciário, e seu traje é incompatível ao ambiente...
- É assim que me trajo! O Senhor por acaso prefere a vestimenta à competência!
Vi que aquela atitude imperativa levaria a um bate boca que não valia a pena insistir, levei a audiência até o fim. Quando ela terminou e as partes se retiraram eu pedi ao advogado para permanecer.
E disse-lhe:
- Não posso lhe censurar e nem lhe advertir, porque não sou órgão sensor da sua entidade de Classe. Mas, como profissional mais experiente digo-lhe: respeite os mais velhos e a Justiça, se um dia o Senhor quiser ser respeitado !
Ele saiu deixando para trás rastro de soberba.
Parece que graduações acadêmicas pouco se prestam para formar profissionais respeitosos e menos deslumbrados. O respeito neste país parece que tomou asas e voou para nunca mais voltar.
Enquanto o governo não voltar a sua atenção para espargir cultura e educação, infelizmente o Brasil continuará cada vez mais mergulhado na corrupção e intolerância.
E com certeza não serão os Pós-Doutores que devolverão o respeito a uma sociedade mergulhada
no oportunismo e na ignorância. Tarefa que apenas incumbe aos professores experientes e disciplinadores e a mais ninguém!