Fatia de Pizza
Não tenho hábito de andar pelo centro de Curitiba e por isto mesmo fico meses sem percorrer a rua XV de Novembro a nossa principal via pública onde desfilam pessoas de todas as nacionalidades, localidades, cor, credo, vestimentas e trejeitos. Mas ontem por volta da hora do almoço me obriguei a fazer o que não fazia há muito tempo e fui com minha mulher enfrentar o burburinho humano, pois fui fazer um exame de espirometria em um laboratório localizado num edifício do centro para aquilatar como anda meu torpedeado pulmão cujo “fole” de uns anos para cá não funciona a contento.
Como o horário marcado coincidia com o almoço resolvemos que depois do exame iríamos comer em qualquer lugar como dois turistas em nossa própria cidade. E foi muito bom. Pois me ocorreu matar a saudades de um pequeno espaço comercial localizado na Travessa Oliveira Belo, quase ao lado do antigo “Cine Arlequim”, de nome “Pizzaria Itália”. E quando chegamos uma simpática senhora nos deu as boas-vindas e eu fui logo dizendo:
- Boa tarde, senhora. Viemos aqui para matar as saudades !
- Óh, que bom. Estas duas senhoras - apontou para duas mulheres que estavam pagando a despesa - Elas também chegaram aqui dizendo que vieram matar as saudades!
Cumprimentamos uns aos outros e dissemos que aquele local era tradicional porque nele tínhamos o hábito de tomar a melhor vitamina do mundo e saborear “aquele” pedaço de pizza. As mulheres se retiraram do recinto e eu e a minha esposa sentamos em cadeiras próximas do balcão de atendimento. E como não poderia deixar de ser pedimos o “prato da casa”.
Em poucos minutos estava na nossa frente uma deliciosa vitamina de morango e um especialíssimo pedaço de pizza coberto de queijo, presunto e tomates diferente de qualquer outro porque tinha o cheiro e o sabor de um passado distante.
E como dois recém casados minha mulher e eu lembramos que há um pouco mais de cinquenta anos atrás, já casados, quando morávamos no interior do estado e vínhamos passar as férias forenses em Curitiba tínhamos o hábito de comer no local a pizza e a vitamina que estávamos saboreando. Pois o preparo é igual, com o mesmo esmero e capricho, como se as fatias fossem retiradas da única pizza que era servida ao longo do tempo. A vitamina com leite, sorvete de creme e frutas variadas batida no liquidificador é marca registrada daquele cantinho muito especial. Enquanto comíamos eu e minha mulher ficamos vendo a decoração do ambiente, fotos, objetos e propagandas da “Crush” e da “Coca-Cola” de dezenas de anos atrás.
Lembramos que nossos dois filhos então pequenos também gostavam da vitamina porque era feita com amor. Saímos da “Pizzaria Itália” com sorriso no rosto como se estivéssemos andando nas nuvens pela felicidade que sentimos por termos passado momentos tão prazeiroso naquele lugar tão singelo. Num lampejo de outras lembranças recordei do tempo que saiamos de Jaguapitã para tomar sorvete em Rolândia e voltamos para casa, tudo quando ainda tínhamos um mundo pela frente e um longo caminho na vida para percorrer…
“As cidades mudam, se agigantam, adquirem ares de modernidade mas deixam sempre alguns lugares que permanecem iguais.
Parece que eles não mudam para nos lembrar que ainda estamos vivos.”
Édson Vidal Pinto
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