Fazer o Quê Com os Idosos?
Fico vendo o que acontece ao meu redor quando os idosos se tornam um estorvo para a família. Para os mais jovens eles apenas ocupam espaço e nada mais. Lembro-me do enredo de um filme italiano cujo título é “Parente é Serpente”; uma tragicomédia que retrata o que normalmente acontece quando os pais em idade avançada anunciam na ceia de Natal que precisam morar na casa de um dos filhos, porque não têm mais condições de sobreviverem sozinhos.
No início da fita aparece a chegada dos quatro filhos, uma mulher e três homens, dentre todos só um dos filhos homens não é casado. E dos casados só a filha mulher não tem filho. Os pais moravam em uma pequena cidade do interior da Itália, em uma casa de material antiga, de dois pavimentos.
O pai nonagenário, surdo e esclerosado e a mãe uma típica “mama” italiana de oitenta anos de idade. E quando os irmãos com as famílias chegam vindo de outras cidades é motivo para descontração, lembranças e brincadeiras.
A mãe não perdia tempo para reclamar que o fogão a gás estava vazando e precisava de conserto. E ninguém se importava. E com a neve caindo sem parar foram brincar de guerra atirando bolas de neve uns nos outros e deslizaram num velho trenó pela rua coberta de gelo. E como eram parentes não faltavam intrigas, invejas e maledicências.
Porém tudo era diversão até que ouviram o anúncio fatídico: o de que os pais precisavam de cuidados e tinham que morar com um deles. E aí começou a discórdia. O empurra empurra. Ninguém queria assumir o encargo. E o filme termina quando os filhos desacompanhados dos pais que ficaram em casa, vão cear no clube local para festejar a virada do ano e da janela veem explodir a casa da família.
Fica a dúvida: será que o defeito com o gás explodiu acidentalmente ou foi provocado? Daí os filhos, noras, genro e sobrinhos se entreolham e as cortinas se fecham. É claro que o enredo permite reflexão. Afinal os mais velhos estão ou não sobrando na vida dos filhos? Eis o xis da questão.
E para agravar vem a constatação da longevidade motivada pelo avanço da medicina com consequente melhora da qualidade de vida. Duvido que ninguém conheça pelo menos um caso em que os pais, ou só o pai ou a mãe viúva, não estejam entregues a própria sorte.
Parece que o amor dos filhos pelos pais arrefeceu; a luta do pão de cada dia afastou corações e endureceu o sentimento dos mais jovens. Esta é uma triste constatação ou sou eu que estou enxergando o cotidiano com os olhos de um velho rabugento?
“Esta faltando amor? Eis a pergunta que não quer calar. O mundo está perdendo o glamour na medida em que as famílias estão se decompondo. As pessoas estão mais egoístas e vivendo nos seus redutos. E os pais são figuras decorativas e que quando envelhecem, atrapalham!”
Edson Vidal Pinto