Feliz coincidência
E por ser dia de descanso nada melhor do que ler um texto leve, sem preocupação, apenas para preencher o ócio. Foi pensando nisto que lembrei de um fato pitoresco, simples, que vou narrar nesta crônica apenas a título de curiosidade, mas, para mim, teve um significado muito especial. Imagine o leitor se um dia qualquer, sem esperar, aconteça algo imprevisto como encontrar um velho amigo de infância, ou um objeto que você achou que tinha perdido, talvez uma fotografia do qual você não lembrava mais, ou qualquer outra que possa recordar um trecho ou um episódio de sua própria vida. Pois isto aconteceu comigo, quando veraneava no mês passado, na praia de Guaratuba. Sempre que vamos com nossas famílias para o litoral do Paraná eu e o meu concunhado Gilson Gomy de Ribeiro (nossas esposas são irmãs), compramos e levamos alguns livros para nos deleitarmos com suas leituras. E como nossa temporada é longa, sempre lemos alguns deles e trocamos ideias sobre os mesmos.
Meu concunhado, porém, gosta de comprar livros no sebo, não porquê é mais barato, mas porquê ele gosta de encontrar raridades e também livros biográficos e de histórias paranaenses. Um certo dia ele começou a ler “As Histórias de Sherlock Holmes” (contos - Volume 5) de Arthur Conan Doyle, 2a. Edição 2.011, Jorge Zahar Editor Ltda., que não caiu no seu agrado por serem vários histórias, de poucas páginas cada uma, com muitos detalhes do autor e com referências aos outros livros de sua autoria. Ele então me disse que não tinha mais interesse no livro e o deixou de lado. No final da temporada resolvi propor a troca do livro que ele não gostara com um livro que eu tinha lavado e lido, daí, fizemos a troca. Quando retornei a Curitiba resolvi ler o tal livro do Sherlock Holmes e qual foi minha surpresa quando li, na primeira página, a assinatura do seu anterior proprietário que por certo vendeu ou trocou o mesmo no sebo. Na página em referência consta com nitidez a assinatura de “Enrique José Piera” -, este foi meu professor de Direito Internacional Publico, no 5o. ano da faculdade de Direito (Puc-Pr.) e o Paraninfo da minha Turma. Puxa, que feliz coincidência, pensei com meus botões, pois logo me lembrei com saudades do Prof. Piera (já falecido) quando dava suas aulas com maestria e muito rigor. Ele e o Prof. Lamartine Corrêa de Oliveira Lyra (nome de nossa Turma) eram os terrores do último ano da faculdade pois não ficavam nenhum pouco chateados em reprovar quem não estudava. Lembro que minha turma (na malandragem) resolveu no primeiro mês de aulas, escolher os professores homenageados para a formatura do final do ano, tendo sido escolhido o Prof. Piera como Paraninfo. É claro que ele ficou satisfeito e nos tratava desde então como “afilhados” e não como simples “alunos”, e ninguém ficou em segunda época, nem em dependência e muito menos reprovado. Nós concluímos o Curso em quarenta e três novos Bacharéis, todos felizes da vida. E pensar que da festa de formatura até hoje já passaram 57 anos, portanto, a assinatura numa página de livro me fez voltar aos verdes anos de me vida, lembrando de meus colegas e professores, como se estivesse lendo um espelho mágico. É claro que fico feliz por meu concunhado comprar numa livraria de livros usados, pois quem sabe um dia ele compre, sem querer, o livro que um dia eu escrevi…
“Brincar de escrever e jogar conversa fora é leitura certa para qualquer domingo. Um dia para esquecer dos percalços do cotidiano, recarregar as baterias, a fim de superar com gás suficiente os nhenhenhés da semana. Pena que amanhã já seja segunda-feira!!!”