Festas Juninas!
Liguei o rádio na Bandnews e ouvi uma entrevista alegre e agradável com o secretário de cultura de um município do interior do Estado da Bahia, difundindo com entusiasmo e convidando o povo da região para participar das festas juninas em sua pequena cidade. E pelo jeito as comemorações são inesquecíveis, pois a cidade sede tem setenta mil habitantes e nos períodos de festas chega há ter mais de quinhentas mil pessoas, com apresentações de casamento caipira, forró, sanfoneiros e os mais famosos cantores e repentistas do nordeste.
Daí por que resolvi escrever alguma coisa sobre estas festas como registro antes que ela caia em total esquecimento, pois aqui entre nós são poucos que lembraram da festa de Santo Antônio que já passou, a não ser as moças que querendo casar procuraram comprar um pedaço do bolo que tem a imagem do santinho milagreiro escondido dentro dele, confeccionado com esmero pelas beatas da Igreja do Senhor Bom Jesus, na Praça Ruy Barbosa.
A tradição está desaparecendo e são timidamente lembradas apenas nas escolas, paróquias e praças que mantêm acesas fagulhas de comemorações dos festejos de Santo Antônio, São João e São Pedro (São Paulo). Lembro com saudades dos balões que coloriam o céu de Curitiba, confeccionados com muita técnica com papel de seda de vários tamanhos e modelos que exigia arte e paciência para soltá-los. Ninguém foi mais famoso em soltar balões do que a família rubro-negra dos Gottardi (Sr. Alberto) com alguns tão sofisticados que levavam lanterninhas penduradas e proporcionavam um espetáculo cênico grandioso.
E não tinha hora certa bastava olhar para o alto, de dia ou de noite, que o céu estava apinhado de balões do tipo “estrela”, “mimosa”, “chupeta”, “travesseiro” e dava também para ouvir os sons dos foguetes que estouravam sem parar de manhã até a madrugada retratando uma época em que os moradores da cidade se conheciam e todos identificavam facilmente aqueles que não eram da terrinha.
Nas esquinas dos bairros os vizinhos se reuniam a noite, na rua, ao redor da fogueira feita com lenha e pneus velhos de automóveis para dividirem as guloseimas que eram preparadas, levadas e divididas entre os participantes: canjica, pinhão, maria-mole, batata-doce, milho, amendoim, pipoca, pé-de-moleque, paçoca e aquele imperdível quentão de vinho que espantava um pouco o sereno úmido do frio Curitibano.
Época que existia solidariedade e segurança possibilitando aos moradores do centro e dos bairros caminhar pelas praças, ruas e travessas sem nenhum sobressalto. E de quando em quando a população ficava tensa quando a loja de fabricação e venda de fogos de artifício da “Casa Lanza” pegava fogo e explodia.
Era uma tragédia anunciada que servia no dia seguinte para mil comentários do saudoso locutor Artur de Souza no seu programa radiofônico “Revista Matinal”, da Rádio Clube Paranaense (B2). Mesmo assim os “Lanza” nunca desistiram de seu comércio de artigos juninos.
Ah! Que saudades só de lembrar-se das desabaladas corridas pelas ruas atrás dos balões quando estes começavam a cair só para saber se alguém conseguia apanhar um deles antes de ser “buchado” em mil pedaços pela piazada de seguidores. Não me esqueço da velha casa de madeira de Romeu Bizzoto, localizado no bairro portão, próximo do quartel do Corpo de Bombeiros, onde a família Gomez (de sua esposa Iza) comemorava a festa de Santo Antônio como mandava o figurino; todos rezavam a novena e ladainha na gruta de pedras construída nos fundos da casa que abrigava a imagem do adorado e querida Santa Santo Antônio, padroeiro da família.
Eu sei como era porque participava com minha namorada destas reuniões, pois o Gomez era espanhóis vindo de Málaga e do qual minha sogra (Dolores) era uma das integrantes do clã familiar. Dos dez irmãos Gomez, filhos de João e Antonia, que hoje moram nas estrelas com seus respectivos cônjuges só restou à velha casa fechada e a capelinha no mesmo lugar, como cartão postal de um passado que não volta mais.
É por isto que todas as noites do mês de junho saio na varanda de meu apartamento que dá de frente para o Parque Barigui, mas não ouço nenhum estouro de foguete; apenas o som rotineiro dos carros trafegando pela Rua Padre Agostinho.
Olho para o alto e quando surgem estrelas brilhando parece que vejo no meio delas tantos rostos queridos que habitem minhas recordações; tenho vontade de chorar não por eles que estão felizes e assistindo tudo do lado de lá, nem por mim que vivenciei um dos melhores momentos desta linda existência, mas por aqueles que nunca sentiram a alegria de ter compartilhado em família das tradições das festas juninas...
“As tradições juninas na região sul estão desaparecendo. O calor das fogueiras, os estouros dos foguetes e os balões (proibidos) não fazem parte do presente. O folclore junino figura apenas no calendário e suas lembranças estão vivas na memória de alguns, que aos poucos também estão saindo de cena deste palco chamado vida.”
Edson Vidal Pinto