Fina Lábia.
Sábado, 07 de janeiro.
Tudo bem que o sujeito não presta e é um bandido como qualquer outro marginal. Mas vamos e venhamos, não é qualquer um que tem a "bossa" e "cara de pau" para enganar o alheio. Claro que estou me referindo ao escroque ou estelionatário, pois ninguém é tão artificial e tinhoso como esse personagem do submundo. Parece incrível que em pleno século XXI ainda tem pessoas incautas que caem no golpe do bilhete de loteria premiado, na aposta das tampinhas com bolinha de cera (jogo do Pinguim) e mil e outras modalidades que a imaginação humana pode criar. Claro que todo o ser humano é criativo, mas nunca como o estelionatário.
Ele engana a vítima para auferir vantagem ilícita. Ocorre que nem sempre as vítimas são ingênuas como parece. Conto um episódio acontecido dentro de um certo Tribunal de Justiça. Era uma vez um homem de cabelos brancos, bem vestido, de oratória invejável que por circunstâncias não esclarecidas "caiu" nas boas graças de um Juiz de Direito, então Presidente da associação de classe. Este surpreso com o "achado" daquela "joia" preciosa que era Pós- Doutor em Direito Civil pela Surbonne e ex-Desembargador do TJ do Estado de Minas Gerais, convidou o "mestre" para visitar a Cúpula do seu Tribunal.
O homem não se fez de rogado, antes, porém disse que estava hospedado em um hotel simples da cidade porque sua estada era rápida, pois tinha compromissos futuros na Faculdade de Direito do largo de São Francisco - São Paulo, pois fora convidado para proferir Aula Magna naquela tradicional Instituição Superior. A sua presença na cidade tinha o propósito apenas para conhecê-la, nada mais.
O jovem presidente da associação colocou-se a inteira disposição do ilustre visitante, inclusive fez questão de hospeda-lo em um dos melhores hotéis da cidade, mesmo contrariando a vontade do desembargador. Em seguida foi agendada a visita no Tribunal. Na hora marcada o Presidente da Corte, o Vice-presidente e o Corregedor-Geral recepcionaram a ilustre visita, que chegou acompanhado dos diretores da entidade de classe.
A conversa foi animada e descontraída, entre um mate gelado e bolachinhas o visitante foi envolvente e discorreu assuntos palpitantes. Dissecou as melhores fofocas das Minas Gerais e abordou questões de direito que despertou as atenções dos presentes. Logo veio o convite para uma conferência no salão nobre do Tribunal. Convite que foi aceito de imediato.
O Presidente combinou que a palestra seria proferida dois dias depois, porque teria que fazer uma rápida viagem no dia seguinte, e daria tempo suficiente para convidar os demais desembargadores, Juízes, Advogados e Professores para àquele encontro cultural. Apesar de mostrar preocupação com a viagem a São Paulo, manifestou seu apreço em permanecer na cidade.
O Juiz Presidente da Associação comprometeu-se de pagar as despesas da estadia e que providenciaria uma nova passagem aérea. E para coroar o evento foi prometido que após a conferência seria realizado um jantar festivo em um restaurante dançante, com as presenças das autoridades judiciárias e respectivas esposas. E como prometido, a conferência foi levada a efeito. No dia anterior o visitante foi levado nos pontos turístico e melhores restaurantes.
O mestre extasiou a plateia com o assunto jurídico abordado, mais ainda pela invejável dicção e concatenação de ideias. Ao final foi aplaudido em pé, pelos que estavam presentes. E no jantar esbaldou-se em dançar com as esposas de muitos desembargadores. Foi uma noite inesquecível. Inesquecível, mesmo! Só depois do seu embarque para São Paulo é que caiu a "bomba”: o homem era um estelionatário de "mão cheia”! Egresso de certa penitenciária onde aproveitou para decorar livros de Direito era um "rábula" que fazia inveja para muitos bacharéis.
E o "mico" ficou rondando aquele Tribunal por muitos anos. Tudo bem que todos foram enganados, mas o que "doeu" mesmo e que muitos não se conformaram foi que o malandro aproveitou muito bem a ocasião para dançar juntinho com algumas esposas adredemente escolhidas. Trauma que levou muitos "velhinhos" para o túmulo! A história não aconteceu e tudo foi criado pela imaginação criativa e "estelionatária" de seu autor! Será?