Fio da Navalha
Acordei no momento em que estava me equilibrando sobre uma corda esticada entre dois prédios da Rua XV de Novembro com o calçadão embaixo, sem saber ao certo para qual dos lados eu iria cair. Foi um pesadelo. Com certeza sugestionado pelo filme que assisti ontem à tarde “O Equilibrista”, uma espécie de documentário protagonizado por Jacques Pettit que foi o autor da inusitada façanha de atravessar sem autorização legal sobre um cabo de aço entre as Torres Gêmeas de Nova York, na época os dois mais altos edifícios do mundo. Ele e um pequeno número de colaboradores levaram oito meses para engendrar e colocar em prática o plano, sem que ninguém percebesse.
E depois quando abri bem olhos e me dei conta que estava em nosso virótico mundo, pensei melhor e deduzi que não foi o filme que me influenciou, mas sim, a tal da OMS um aparato criado ela ONU para reger e orquestrar diretrizes da saúde para todo mundo. Explico. Foi ela que bateu o martelo do tempo e estabeleceu a idade de 75 anos para as pessoas serem consideradas “velhas”, nunca antes, só depois. Com certeza a OMS criou uma linha imaginária na frente daqueles que tem 74 anos, 12 meses e 24:00 horas -, pessoa ainda jovem, robusta , ousada, galante e aventureira -, que na fração do primeiro segundo do avanço do ponteiro relógio se transforma em velha, triste, rabugenta , crítica e que ocupa espaço sem objetivo a alcançar.
Falácia ou não foi a OMS que fixou a corda de aço entre dois edifícios para as pessoas caminharem sobre ela, que sem maiores treinos e habilidade acabam caindo para o lado da velhice dando adeus à juventude. Tenho um querido amigo que se recusa a ser chamado de velho, pois quando lhe perguntam:
- Qual é a sua idade?
Ele de pronto responde:
- Não tenho idade; tenho vida!
Tá, não vou polemizar por isto, pois cada um tem o pleno direito de reagir como quiser, mas 75 anos é uma idade mais para lá do que para cá, ninguém duvida. E eu estou prestes a me equilibrar no fio da navalha, pois daqui exatos três dias “cairei” na idade provecta. Sim, completarei 75 anos de idade no próximo dia 25 de abril, sem choro e nem vela.
Dentro da quarentena ditada pela OMS, sempre ela para me “atucanar” a vida, um órgão que pouca gente conhece, de nenhuma credibilidade e que vai me rotular de “velho”. Nestes dias que antecede meu “tombo” estou com raiva da ONU, a entidade mãe da OMS que foi criada no dia, mês e ano que nasci, e que perdeu sua razão de existir. Ainda bem que ela (a ONU) será tão velha quanto eu, basta esperar a chegada do próximo dia vinte e cinco ...
“Hoje a pessoa chega a velhice por imposição da idade e não mais pela perda do viço natural de cada ser humano. Sim, porque antes existiam jovens que eram velhos e vice-versa. Tudo dependia da condição física e mental. Agora não pois a temida OMS decidiu que a velhice começa aos 75 anos de idade e ponto final. Eu tenho três dias até chegar lá. Meu consolo é que ainda dá tempo para preparar uns mil “Miojos” até a velhice me alcançar.”
Edson Vidal Pinto
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