Franqueza Infantil
Vou inaugurar um período de tréguas e deixarei por alguns dias de escrever sobre o cotidiano do país porque as notícias são as mesmas : o Covid continua na vitrine; a CPI serve de palco para projetar politiqueiros de baixo nível moral; o Luiz Ignácio continua livre e sem tornozeleira; o Bolsonaro continua sendo culpado por tudo; a Rede Globo continua desinformando; o crime está sempre em alta; a impunidade é a cara do STF; os três senadores do Paraná continuam não fazendo nada; e só lá fora a ditadura Cubana está em efervescência.
Assim, para não cair na mesmice, vou abordar temas amenos e alguns sem nenhum compromisso com a verdade. Ver para crer. Para hoje reservei uma história acontecida há muitos anos atrás que não teve o fim esperado pela intromissão de uma inocente criança. O dr. Murilo Buchmann foi meu colega no Ministério Público e também professor do Magistério Superior, um homem de bem com a vida e um profissional respeitado. Seu hobby a caçada. Certa feita ele e o irmão foram convidados por um fazendeiro para caçarem na sua propriedade localizada no vizinho estado de Santa Catarina. É claro que não recusou a oportunidade.
E no dia marcado os irmãos foram para a dita cuja fazenda. Lá um mateiro da localidade serviu de companhia e juntamente com o dono da área os quatro adentraram na mata existente no local. Não pareciam estar com sorte porque não apareceu nenhum animal que se prestasse para o abate, até que o Murilo viu no topo de uma árvore bem alta, de pé em um dos galhos, um macaco, com o rabo enrolado no próprio galho e encarando os caçadores.
- E macaco é bom para comer? - perguntou para o mateiro.
- Aquele ali é um bugio, doutor, e sua carne é saborosa…
Bastou para o Murilo fazer pontaria e atirar com sua espingarda no animal que foi atingido no peito, mas não caiu. Pendeu seu corpo para o chão mas ficou preso pelo rabo enrolado no galho. Um outro bugio que estava próximo pressentiu que alguma coisa tinha acontecido e se aproximou do ferido querendo puxa-lo pelo rabo. Foi quando o atirador sentiu pena ao presenciar aquela cena. Mas de repente o rabo foi se soltando e o bugio caiu no chão. Estava morto. O mateiro sentiu um certo ar de tristeza e falou:
- Doutor, não se preocupe. O senhor vai comer a melhor carne de caça e eu vou preparar e colocar no isopor com gelo, para viagem!
Só que depois dele deixar apenas a carne para ser embalada o Murilo observou que a sua cor era preta, bem diferente da cor de qualquer outra carne de caça.
- Mas é assim mesmo. - esclareceu o mateiro - mas o sabor é inigualável.
De retorno para casa mostrou a carne preta do bugio para sua esposa e um filho de cinco anos de idade. Este estalou os olhos quando soube que a carne era de macaco; mas sua esposa proibiu que ela fosse colocada no freezer junto com as demais carnes. E não teve acerto porque a carne foi armazenado no freezer da casa de seu irmão sem que a esposa deste soubesse.
E passou algum tempo quando o Murilo lembrou da carne de bugio e resolveu prepará-la para comer com uns amigos. E quando sua mulher viajou para visitar uma irmã que morava em São Paulo e deixou o filho menor com o pai, este convidou alguns delegados de polícia que foram seus colegas de faculdade e preparou com esmero a carne de bugio. O filho acompanhou sem arredar o pé o pai na cozinha e de quando em quando perguntava:
- É carne de macaco, né pai?
- Sim, filho. Só que você vai me prometer não falar disto para ninguém. Certo?
- Certo, pai!
-Jura?
- Juro, pai!
E quando chegaram os convidados e sentaram na mesa o anfitrião colocou a carne e pediu para se servirem. Todos olharam a cor da carne e um deles perguntou:
- Que carne é esta?
O menininho tentou responder mas o pai tapou sua boca e mais do que depressa esclareceu:
- Não é possível que não conheçam!?! É carne de tateto (porco do mato), comam que vocês vão gostar.
E os convidados satisfeitos com a resposta passaram a se servir e começaram a mastigar aquela carne preta de sabor estranho.
Foi quando o menininho não aguentando mais gritou:
- Ih, pai, eles estão comendo a carne de macaco!!
E foi o fim do almoço porque quem tinha a carne na boca passou a sentir mal, enjoo e cuspir a mesma no chão. Depois foi só gargalhadas. O único que não entendeu bem o acontecido foi o filho do Murilo que impediu um almoço que ficaria na história…
“Toda carne é saborosa desde que seja bem temperada. Conforme o animal a sua carne pode dar asco, por falta do hábito alimentar. Carne de bugio não deve ser fácil digerir se a pessoa ficar sabendo. Acho que nem fechando os olhos e tapando o nariz!”
Edson Vidal Pinto
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