Gilmar, O Soberbo!
Sábado, 23 de junho de 2017.
Nunca vi ninguém ter tanto ódio do Ministério Público do que o Gilmar! Ele ganhou o troféu de qualquer outra pessoa que não gosta dessa conceituada Instituição que exerce o poder acusador do Estado, cuja missão é uma das mais árduas e reservada para quem se arrisca em combater o crime.
E não é fácil! Militei nessa carreira por mais de trinta anos percorrendo comarcas do interior onde a violência imperava época das estradas de chão batido, morando com a família em casa alugada, sem conforto e comunicação com a capital. Tempos em que ser Juiz ou Promotor de Justiça estava no ideal de servir a Justiça, porque tudo era difícil e onde muitos de nós perdemos o viço da juventude trabalhando em pequenas cidades, onde constituímos família.
Nossos filhos nasceram e vivenciaram as pequenas escolas onde o aprendizado era insipiente, cabia sempre à mãe a indispensável complementação do ensino. A nossa vida resumia-se estar em casa ou no fórum, neste contávamos apenas com uma máquina de datilografia da marca Remington, modelo "Torpedo", poucos papéis de expediente que eram repostos mensalmente, blocos de papel para borrão onde só era possível escrever com caneta "bic", tínhamos que comprar nossos próprios livros técnicos e não tinha ninguém para nos auxiliar. Nossas salas de trabalho eram acanhadas e nela recebíamos diariamente as pessoas que nos procuravam para solucionar suas angústias.
A porta do gabinete estava sempre escancarada pois atendíamos todos sem nenhuma formalidade. Prestávamos nossos serviços aos empregados celetistas promovendo ações trabalhistas que eram julgadas pelo Juiz de Direito da comarca, pois não existia a Justiça do Trabalho. E ninguém ficava sem atendimento! Nas questões de família tanto os Juízes como os Promotores promoviam nos seus gabinetes conciliações entre os casais, resolvendo questões familiares das mais diversas.
Ninguém tinha tempo e nem dispunha de dinheiro para fazer mestrado ou doutorado, mesmo porque estes cursos só eram realizados em São Paulo, Rio de Janeiro ou fora do país. O nosso aprendizado foi na trincheira do trabalho, no dia a dia das dificuldades e sem ninguém para orientar ou ensinar como fazer. Na esmagadora maioria de gerações de Juízes e Promotores fomos todos autodidatas. O serviço forense era a única atividade e fiscalizada de perto pelas Corregedorias.
Esta foi à sina dos pioneiros, daqueles que escreveram suas histórias de vida pelos caminhos mais difíceis. Hoje, lembrados apenas nas fotografias estampadas nas galerias dos integrantes da carreira, fixadas em uma parede de pouca visibilidade. Mas com certeza valeu a pena, lembro-me de cada júri que eu fiz, das salas de sessões lotadas pelo povo que gostava de assistir para depois comentar sobre as atuações dos Promotores e do Advogado, pois o júri era uma vitrine para os profissionais e dava há cada um a importância que mereciam no contexto da sociedade.
Enquanto que o Juiz era a principal autoridade do local o Promotor era temido pelo que representava. Era assim o conceito de autoridade e ninguém ousava afrontar. Tudo mudou. Até o STF que deveria estar primando pela serenidade e bom senso, perdeu a linha. Os homens e mulheres da Justiça parecem que estão anestesiados na própria pequenez. Falam aonde não deveriam falar e escrevem no processo cada vez menos.
Tal qual o Gilmar que para se defender do tanto que lhe acusam passou ao ataque, justamente contra os Promotores! Mal sabe ele que o Ministério Público é uma fortaleza que já resistiu grandes ataques dos mais perigosos quadrilheiros e que seus agentes nunca fugiram de combater o bom combate.
Para explicar a ira desse ministro que tem a soberba como "virtude" não custa lembrar-se das palavras de RASSAT, um pensador francês que assim definiu o Parquet:" Existem duas categorias de pessoas que abominam o Ministério Público: os ignorantes que não o conhecem e os desonestos porque o conhecem muito bem!".
Acho que todos sabem em que categoria o Gilmar está, não é mesmo? Vamos, pois virar mais esta página...
" Nada se iguala a pequenez do ser humano. Nem a maldade que é o pior de todos os infortúnios. Porque àqueles que só olham para seus próprios interesses vivem na escuridão da própria mediocridade! "
Edson Vidal Pinto