Grandes Mistérios da Idade.
Teimam em dizer que a vida começa aos cinquenta anos e aqueles mais ousados contestam para afirmar que o melhor tempo a ser vivido é depois dos sessenta anos. Tenho minhas dúvidas, pois na véspera de completar meus setenta e quatro anos (25/abril), preferia mesmo estar na casa dos vinte ou trinta anos.
Tempos em que eu esperava ansioso chegar o sábado para jogar “pelada” no campo de areia nos fundos do Palácio Iguaçu,
com amigos inesquecíveis. Podia chover garoar, gear ou fazer calor nada adiava o nosso futebol.
Meses atrás vi uma bola cair no pátio do prédio onde moro, jogada por uns garotos que jogavam futebol na cancha de cimento e procurei devolver a mesma com as mãos, rodopiei como pião e caí em cima da cabeça do fêmur da minha perna direita. Sofri as consequências pela inflamação que tive no local e que me impediu por semanas de me movimentar. Experiência? Ah, sei que vão dizer que a idade avançada é sinal de experiência, tudo bem, até pode ser.
Quem vive mais adquire por óbvia mais experiência por desfrutar maior tempo no caminho árido da existência. São rugas e manchas nas mãos de cada idoso que atestam o boletim da experiência; quantas mais a certeza de conhecer melhor as ruas esburacam e tortuosas da vida.
E tem graça? Não sei se tem, pois a longevidade tem duas vertentes: uma que para muitos representa a alegria de viver; e a outra daqueles que carregam nos ombros o fardo pesado das intempéries do próprio tempo. Cada ser humano tem a sua própria sina. Com o avanço da tecnologia a Medicina proporciona a possibilidade da longevidade com melhor qualidade de vida. Esta uma constatação inquestionável.
Tanto que os doutos do conhecimento humano estão afirmando que o período da velhice só começa depois dos setenta e cinco anos de idade. Vale dizer: que ainda não cheguei lá, pois ainda falta um ano e um dia para deixar a minha fase de adulto. Só que as dores do meu corpo são ignorantes e surdas porque ainda não entenderam a informação dada pelos cientistas.
Escrevi tudo isto para contar um episódio do cotidiano que eu não poderia omitir em uma de minhas crônicas. Fato jocoso e que espero ser perdoado pelo meu atrevimento em contar com todas as tintas e cores. Minha irmã (Marley) tem oitenta anos e é casada com meu cunhado (Eduardo) de oitenta e sete anos, ela foi uma educadora como pouca e ele médico, ambos residentes há mais de sessenta anos na cidade de Paranaguá.
Num verão escaldante da cidade quando estavam sós os dois na casa onde moram, inclusive as empregadas tinham saído, por voltas dezessete horas resolveram entrar na piscina para se refrescarem. Menos de uma hora depois resolveram sair da agua pois estava no ar um ventinho frio vindo do mar.
Mas não conseguiram realizar seus intentos. A condição física de ambos não ajudava apesar dos esforços que fizeram. E não adiantava gritar os muros da propriedade impediam que os vizinhos pudessem escutar. Assim sol foi perdendo o seu brilho e a noite chegou bem devagar.
Lá por volta das vinte horas chegou por acaso um dos netos, que ouviu os gritos dos avós e tirou os dois da piscina. Quando saíram pareciam mangas chupadas, tal a flacidez de suas peles pelo longo tempo que permaneceram na água.
O fato até agora tinha ficado apenas no âmbito familiar e tem dado motivos de muitas chacotas. Bem, com todo o respeito, o “incidente” em questão prova que nem sempre a experiência dos mais vividos funciona. Contei apenas a título de ilustração e espero sinceramente que nenhum leitor desta crônica passe adiante o acontecido por ser segredo de família.
Afinal o que acontece em Paranaguá fica em Paranaguá. Só espero que nem minha querida irmã e nem meu amado cunhado fiquem brabos comigo, se exagerei um pouco na dose...
“Por mais experiência que se tenha da vida sempre têm falhas. Pois errar é humano. O idoso aufere maior bagagem por ter vivenciado maior período de vida, mas nem sempre isto funciona. Pois tem moço-velho e velho-moço, tudo é questão de maturidade mental. O resto é conversa fiada!”
Edson Vidal Pinto