Guaratuba, Lá Vamos Nós!
Como também não somos de ferro também vamos passar as nossas férias de aposentados na praia de Guaratuba, que não é “divina” mas que quebra o galho. É um dos poucos meses em que a água do mar permite que o banhista friorento enfrente as ondas e permaneça como jacaré refestelado na areia. Mas não fazemos nada disso porque preferimos ficar em casa desfrutando da família e da piscina. Claro desde que não chova. Janeiro é quente e muito chuvoso no litoral do Paraná, o certo é afirmar que mais chove do que faz sol.
Mas com a família reunida pouco importa o tempo lá fora, pois o mais importante é desfrutar o tempo enturmado com quem amamos. Ler, escrever e jogar conversa fora. Tem coisa melhor? Nem entrei no carro para partir e já estou pensando que cheguei, porque “curto” as férias só de pensar. Sinto até a brisa do mar na travessia do ferryboat como um velho marujo quando está navegando, só falta ter um papagaio empoleirado num dos meus ombros, de olhos arregalados e gritando no meu ouvido: “Terra a vista!” Claro que não passa de fruto da minha imaginação pela alegria de poder ir ao encontro do mar.
Afinal sou neto de marinheiro mercante que amou o mar como poucos. Sou interrompido pela minha mulher para colocar as malas no carro, são duas e gigantes. Olhei que ao lado delas tinha também três sacolas gigantescas, duas menores, uma frasqueira e três pratos inox de comidas preparadas com esmero, para o réveillon de logo mais à noite. Olhei, calculei, medi tudo de cabeça e cheguei à conclusão que não iria caber no meu Fiat, 147. Ou de duas uma: daria para acomodar tudo dentro do carro, mas eu teria que ir do lado de fora, atrás, empurrando o veículo.
Como bom cavalheiro minha mulher viajaria no banco ao lado da direção (sem motorista). Mas como “o pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada”, não apenas acondicionei toda a bagagem no meu possante carro como sobraram dois assentos vazios, na parte dianteira, para minha mulher e eu. E quando já estávamos sentados dentro do Fiat e eu estava pronto para dar a partida, ouvi batidas dadas com dedos no vidro lateral da minha janela, era meu vizinho:
- Amigo, posso pedir um favor ?
- Claro ...
- Sei que você está indo para Guaratuba e com certeza vai passar pela praia de Matinhos ...
- Vou, sim.
- Você poderia me fazer um favor de levar uma prancha de surf para o meu filho, que está em Matinhos?
Como dizer “não” para um vizinho tão querido?
- Claro que posso levar!
Saltei do carro e amarrei a prancha no teto e rezei para ela não cair na estrada e causar acidente. Dei uma boa olhada no meu carrinho e fiquei admirado dele aguentar firme todo aquele peso, embora os pneus não estivessem aparecendo. Mesmo assim pensei com meus botões: preciso economizar para comprar um carro melhor, mais espaçoso e que caiba no “meu bolso”.
Talvez no novo ano eu compre um Fiat “torino” que é mais alto e dá para acomodar mais uma ou duas malas grandes. Enquanto eu delirava no meu sonho de consumo ouvi minha mulher dizer:
- Vamos embora, está ficando tarde!
Olhei por curiosidade o relógio e estava marcando 00:09 horas da manhã. Fiz então os cálculos: levando em conta o peso, o atrito do solo, ar frontal no pára-brisa , a temperatura dos pneus e a distância de 110 kms até o balneário, com certeza chegaremos em nosso destino antes da virada do ano.
Para os que ficam Curitiba, um feliz ano novo com muita alegria, harmonia, amor e saúde para dar e vender. Xô, COVID-19! Guaratuba: prepare-se pois aqui vamos nós ...
“Mar, maravilhoso mar, só de pensar sinto minha saliva ficar salgada. E pensar na minha ilha, meu iate, meu suco de abacaxi, minha marina, minha piscina olímpica que vou comprar se ganhar na Mega Sena de final de ano. Como é bom sonhar e acreditar em dias melhores. Feliz 2.021 ! Ano em que vamos juntos celebrar a vida! “
Edson Vidal Pinto
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