Historia de Família.
Ontem, 24 de março, sexta feira.
Mais uma semana que termina com notícias políticas e econômicas pouco alvissareiras. Estamos no ranço de um momento que infelizmente não quer passar, os políticos dão motivos para a total perda de credibilidade dos governantes. Até agora ninguém explicou satisfatoriamente se a Previdência é ou não deficitária com órgãos públicos e empresas privadas de grande porte devendo fortunas, estas sonegadas sem qualquer cobrança e escrúpulos. Mas não vou discorrer sobre a hecatombe que nos apavora, pois se aproxima o final de semana, está findando o dia e já é noite parece oportuno refrescar um pouco a vida do leitor contando uma história amena acontecida no início do século passado em Curitiba, protagonizada por minha tia predileta e uma sua amiga.
Um flagrante de família que agora depois de passado tantos anos vivem apenas na lembrança de alguns poucos. Espero que ela onde esteja me perdoe pela indiscrição. Será possível imaginar como seria a nossa bela cidade no final da década de 1.920, com as ruas abertas, mas de piso lamacento, muitos campos, rios, morros, mulheres com saia comprida e homens de chapéu e polaina? Os casarões das famílias mais abastadas localizadas umas distantes das outras, a charrete, a carroça e os homens montados em cavalos, pois raros eram os automóveis, os bairros nasciam e as casas de residências eram construídas em área da periferia e distante da Praça Tiradentes que monopolizava o afluxo de pessoas.
Nesta época meu avô materno era delegado de polícia do bairro Portão, local onde havia fixado residência depois de deixar a cidade da Lapa, sua terra natal. Ele e minha vó, também lapiana, tiverem sete filhos, quatro homens e três mulheres. A minha tia que é personagem desta história era a terceira na idade cronológica e estava com 15 anos de idade.
Moça esbelta, cativante e sonhadora deixou-se levar pelos encantos do cinema mudo, apaixonando-se pelo "mocinho" dos filmes de cowboy: o Tom Mix. Galã e herói sempre combatiam os bandidos e no final da fita acabava casando com a atriz principal. Com arroubos próprios da idade minha tia resolveu fugir de casa com uma amiga para filmar em Hollywood, contracenando com Tom e reservando para a amiga o papel secundário de melhor companheira da "mocinha". Esta seria a minha tia.
Em certa manhã as duas jovens deixaram suas casas e foram embarcar no trem à Paranaguá e nesta cidade viajariam de vapor para os Estados Unidos. Embarcaram no trem. Mal a composição férrea deixou Curitiba o Chefe de Trem, funcionário da ferrovia, deparou com as duas fugitivas que lhe chamou a atenção porque estavam assustadas.
Experiente, aproximou-se das moças e na conversa tomou conhecimento do plano engendrado pelas mesmas, tendo estas no final falado que estavam arrependidas e começaram a chorar. Ele perguntou os nomes dos pais e na estação de Piraquara fez as adolescentes desembarcarem ficando aos cuidados do Chefe da Estação. Este telegrafou à Curitiba dizendo que iria embarcar as moças no primeiro trem de volta e que fossem avisados os seus pais.
Meu avô que era um homem temperamental e de índole agressiva quando tomou conhecimento do fato encilhou seu cavalo e foi esperar a filha em frente da estação ferroviária. Minha tia e a amiga desembarcaram do trem e quando viram meu avô no cavalo, correram. A amiga caiu nos braços do pai que também estava furioso. Mas minha tia, coitada, correu e foi perseguida por meu avô que de chicote em punho dava chibatadas na sua direção.
O som do couro batendo no chão era ouvido de longe , segundo contava ele não pretendia atingir a filha, mas amedronta-la, alcançando seu objetivo. Depois de passado alguns anos minha tia dizia que desistiu de trabalhar em Hollywood, pois encontrou seu amor e casou com meu tio.
Ambos viveram juntos e felizes por mais de cinquenta anos. Hoje tenho a figura dos dois em meu coração. Pelo episódio narrado confesso que lamento não ter sido sobrinho do Tom Mix, pois com certeza estaria montado em seu cavalo branco e portando na cintura os dois revólveres que ele usava na perseguição aos bandidos.
Ah! Como eu faria sucesso em Brasília! Depois da "limpa" apareceria a legenda "The End" e a cortina do espetáculo fecharia. A plateia me aplaudiria em pé e o Oscar estaria em minhas mãos! Mas como a aventura de minha inesquecível tia não deu certo, Brasília continua do mesmo jeito...