Incompetência
Quem não gosta de um bom conto policial não é mesmo? Principalmente quando o fato e as circunstâncias do crime são verdadeiros, pois o relato quando bem descrito transporta o leitor para o local do acontecido e abre as asas da imaginação. Pois foi com riqueza de detalhes e argúcia que a jornalista Cristina Tardáquila escreveu o livro “A Arte do Descaso”, da Editora Intrínseca LTDA (2015), em que ela mostra a inoperância da Polícia Federal para desvendar o roubo em um museu carioca.
Em linhas muito superficiais o fato aconteceu na tarde de 24 de fevereiro de 2.006, quando quatro ladrões renderam seguranças, funcionários e visitantes do Museu da Chácara do Céu no bairro de Santa Teresa e se apossaram de cinco obras de arte de consagrados pintores : Picasso (2), Dali, Matisse e Monet,- na época estimadas em mais de dez milhões de dólares. O local é uma antiga mansão que pertencia ao empresário e mecenas Raymundo Ottoni de Castro Maya (1.894-1.968), cujo acervo riquíssimo em obras e peças antigas após a sua morte passou para o patrimônio público.
Foi em 1.972 que o referido casarão se tornou museu, mas não era muito conhecido do público porque sua localização estava fora do chamado “circuito cultural” do Rio de Janeiro. Segundo o FBI e a Interpol o valor total do roubo está na escala de ser o sexto maior prejuízo causado em museus de todo mundo. No livro a autora passou a investigar por conta própria para descobrir as autorias e o destino das obras, ouvindo testemunhas, xerocando o inquérito policial, coletando impressões de delegados e do Procurador da República designado para atuar nos autos.
E cada vez que avançava na sua caminhada solitária foi constatando que a arte além de não ser conhecida por muitos é desconsiderada por aqueles que se intitulam artistas. Sabedora que o então Ministro de Estado da Cultura Gilberto Gil, foi um dos primeiros a tomar conhecimento do roubo, tentou inúmeras vezes uma entrevista com o mesmo, para que falasse sobre as consequências danosas à cultura do país. Ele recusou sem nenhuma justificativa. Todavia a jornalista prosseguiu no afã de elucidar o crime até que finalmente pode alcançar a verdade.
É um livro que vale a pena ler para saber a importância da arte no contexto da vida dos brasileiros. Tudo bem? Pois até acho que até aqui foi um bom preâmbulo para perguntar: como vai a cultura neste nosso país encalhado pelo coronavírus? Nada bem, não é mesmo? Também acho. A senhora Regina Duarte parece que ainda não justificou o porquê de ter aceito a Secretaria de Cultura do governo federal.
Talvez esteja encalacrada no meio da crise onde o vírus e a economia estão na vitrina dos acontecimentos.
Mas sem fazer grande coisa parece que acabou o derrame de dinheiro da Lei Rouanet para os bolsos de um reduzido grupo de artistas privilegiados, dentre estes o referido ex-ministro da Cultura. E no Paraná? Parece que o governador não sabe o que é arte e nem cultura porque a área está acéfala, porquanto subordinada a uma Superintendência que há meses não tem titular. E a cultura só sobrevive em nosso estado graças ao empenho de homens e mulheres que conhecem a sua importância na formação humana. É um descaso da parte de um jovem governante que tinha tudo para bem administrar, mas que está enredado nos interesses politiqueiros daqueles que o manipulam.
É um presente omisso, que tem a sorte de ter pego um Erário Público equilibrado e servidores públicos insatisfeitos porém disciplinados, por ainda estarem aguentando o arrocho salarial imposto. Disso tudo dá bem para avaliar o porquê em Curitiba estão abrindo mais academias de ginástica e fechando as livrarias. Com certeza porquê cultura não dá voto ...
“A arte e a cultura perdem espaço porque os governantes não se interessam nem um pouco com o futuro do povo. E principalmente porquê não dá voto. A mediocridade é que tem vez porque alegra os incautos.”
Edson Vidal Pinto
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