Inimaginável!
O carioca é mesmo um povo diferenciado porque consegue burlar qualquer proibição e faz até chover para cair no samba, porque no carnaval vale tudo. Lembro quando fui pela primeira vez ao Rio de Janeiro na década de cinquenta do século passado, quando meu saudoso pai levou a família de trem para conhecer a Cidade Maravilhosa. Minha irmã, então uma menina-moça, leitora da “Revista do Rádio”, ansiava conhecer de perto os cantores da Rádio Nacional e meu pai nos levou para assistir o programa do César Ladeira onde desfilavam os ícones do cenário musical brasileiro.
Lembro quando se apresentou a Angela Maria, a “Sapoti”, com seu vozeirão para o delírio da plateia. E tudo acontecia no último andar do “Edifício da Noite “ um prédio que marcava o arrojo arquitetônico da cidade. Naquela época o carioca do morro era irreverente, brincalhão e vivia na expectativa de tirar vantagens para quem “dava mole”. Típico malandro e nada mais. E depois que o Rio deixou de ser a Capital do Brasil os governadores e prefeitos passaram a exercer o comando político comprometidos com bicheiros, traficantes e empresários de duvidosa índole -, o carioca ficou arredio e com medo da violência.
A cidade continuou maravilhosa como sempre e a população ficou dividida entre “nós” e “eles”, bandidos e mocinhos, bons e maus. O crime recrudesceu e a ordem pública ficou abalada. O carnaval inocente dos blocos de rua deu lugar às escolas de samba. E estas de acordo com seus patrocinadores que injetavam significativas verbas para lavagem de dinheiro, mudaram de roupagem aparecendo na avenida ricos carros alegóricos e apresentações de musicas-enredo nem sempre deglutidos pela moralidade pública. A figura de Jesus Cristo foi tripudiada em desfile em plena avenida. O carnaval passou a ser um show de luz, luxo, criatividade e nudez para turista e estrangeiros assistirem pessoalmente ou pela TV. A festa para o povo foi mantida no espaço diminuto de cada bairro com batuques, fantasias, desfiles e excessos.
Mas seja na Marquês de Sapucaí , no Morro ou em Bangú os habitantes da cidade não negam o amor pelo carnaval e nem a paixão pela escola de samba do seu coração. E de repente, vindo da China um vírus mortal, ocorreu a proibição do carnaval em todo o país para evitar aglomerações perigosas à Saúde Pública. Eu escrevi dias atras que o carioca não resistiria ficar sem pular o carnaval e que muita coisa poderia acontecer até o término do reinado de Momo. Mas aconteceu o inusitado. Um grupo de foliões entrou na área onde estão instaladas as máquinas automáticas de uma agência do Banco Bradesco no centro do Rio de Janeiro, e no local pularam fantasiados, cantaram marchinhas, jogaram confetes e serpentina para festejar o carnaval. A festa foi fotografada e postada no Facebook para quem não acreditar. Claro que é prova insofismável de irreverência e desobediência de ordem ditada por autoridade pública. Mas quem vai punir quem? No Rio de Janeiro ? Por favor não ria porque dói meus dentes ...
“O povo brasileiro perdeu a noção do que seja saúde pública, ordem de autoridade e respeito. A vida está tão banalizada pela ideologia canhestra que muitos preferem pular o carnaval de maneira bizarra, do que respeitar o direito dos outros viverem.”
Edson Vidal Pinto
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