Ivy, a Tartaruga!
Os avós são aquelas pessoas ungidas por Deus que vivem para abrigar, servir de motoristas, agasalhar e amar infinitamente os netos. Estes têm regalias que poucos filhos tiveram; não sei se é pela experiência da vida, dos sobressaltos, da luta para manter a unidade familiar ou se em razão da paúra da velhice, que os avós se entregam de corpo e alma para os filhos dos filhos.
E com eles os momentos se eternizam. Mesmo quando a distância e a falta de tempo se tornam obstáculos para uma convivência mais estreita, pois as obrigações escolares dos netos e a faina diária dos seus pais contribuem para alargar a distância, mas a falta da presença física dos netos na casa dos avós tem o gosto amargo da solidão.
Dizem as más línguas que seríamos ótimas ter netos sem nunca ter tido filhos. Só que a felicidade não seria plena. Tenho três netos: duas mocinhas (doze e catorze anos) e um menininho (um ano e quatro meses), o Edson Neto. Eles são os presentes que recebemos de Deus. E por que estou escrevendo sobre os netos? Porque minhas netas, filho e nora viajaram no mês de novembro do ano passado para a China, Tailândia e Coreia do Sul e as meninas deixaram a Ivy, uma tartaruga fêmea, para que nós cuidássemos até voltarem de viagem.
E nas suas ausências não há de ver que a tartaruga ficou doente? Com a responsabilidade de avós tivemos que procurar um veterinário de animais exóticos (e encontramos) que tratou do bichinho: falta de vitaminas. Foram três consultas ao todo, mas valeu a pena. Só que minhas netas voltaram de viagem e a Ivy continua aqui em casa, refestelada dentro de um aquário. Elas quando vêm aqui em casa fazem “aquela” festa para a tartaruga, mas não demonstram interesse de levá-la.
Acho que eu e minha mulher arranjamos uma inquilina para os próximos sessenta anos. Pelo menos é a idade que o veterinário disse que ela poderá viver. E o mais engraçado é que aqui em casa passamos a interagir com a tartaruga, pois ela acompanha com a cabeça pelancuda os movimentos que fazemos.
Engraçado porque os cães e gatos estão na moda para fazer companhia aos idosos solitários e jovens que amam os bichos, e aqui em casa a Ivy virou atração. Parece brincadeira, não é mesmo? Mas é verdade.
A nossa preocupação é que a Ivy está aprendendo a escalar a parte superior do aquário e tentando sair do mesmo em busca de novas venturas. Acho que o aquário esta pequeno demais ou ela está ficando muito grande para morar em apartamento. Quando o verão chegar, se alguém notar um casal de idosos andando no Parque Barigui, puxando uma tartaruga presa pelo pescoço, por favor, não estranhem, somos nós com a tartaruga de nossas amadas netas...
“Escrever crônicas do cotidiano faz com que o autor encontre nos mínimos detalhes a motivação para seus temas. Usar a criatividade no lugar da rabugice tempera a leitura. E até a tartaruga serve de pretexto para uma pequena reflexão!”
Edson Vidal Pinto