João, João, Até Você.
E da noite para o dia a vida do homem milagreiro se transformou em nada. Um apocalipse aconteceu em Abadiânia e fez desabar a Casa de Dom Inácio. E para consertar a propriedade João sacou do banco, na última sexta-feira, trinta e cinco milhões de reais.
Dizem as más línguas que o dinheiro serviria para o João fugir, já que sua prisão foi decretada. Interessante que muitos não querem acreditar que trezentas e trinta e cinco mulheres denunciaram o João, por práticas de atos libidinosos. Eles alegam que nunca viram nada, aliás, nunca souberam de nada que pudesse denegrir a imagem honrada de um enviado de Deus na terra. Coitados, são pessoas cegas pela fé; pois os crimes sexuais são sempre praticados às ocultas, entre quatro paredes e sem testemunhas de vista.
A pequena cidade de quinze mil habitantes está economicamente combalida. O comércio está estático, sem movimento algum, porque diminuiu consideravelmente o número de turistas e doentes que visitavam o lugar. João que era de Deus foi reduzido a João Só, só João, nada mais. Um triste episódio que gerou descrença e descrédito no ser humano; sem surpresa nenhuma, porque nem o homem e nem a mulher são seres perfeitos.
O que restou foi apenas o sofrimento daqueles doentes que procuravam e acreditavam em uma cura através da fé e da esperança depositada nas mãos de um homem místico, quase santo. A sua prisão não exime sua culpa e nem acalenta os que ainda acreditam no seu poder divino. A cidade de Abadiânia está com o futuro comprometido, a economia minguando aos poucos até ficar sem nenhum visitante. João nunca mais será o mesmo, apesar de muitos não acreditarem nas acusações que lhe são dirigidas.
E o dinheiro? Que valor expressivo para quem se diz médium e fica a serviço de entidades espiritas, fazendo o bem e sem olhar a quem. Pois é, difícil de digerir que não sobraram razões para o enriquecimento e por consequência, através do abuso da credulidade das pessoas aflitas e desesperançadas.
Ele se prestou como tábua de salvação produzindo milagres e espargindo amor ou foi um embusteiro como muitos outros que vendem ilusões e arrecadam somas significativas de dinheiro, a título de doações dos incautos? O que dizer nessa hora? Ele como médium teria esgotado o suficiente o seu papel e como homem mostrou sua fragilidade humana? Será que dá para separar as duas coisas: o espiritual do profano? Eis a questão.
Mal comparando João foi um Lula sem política, mas com igual arte da encenação e como garimpeiros de fortunas. Cada um a seu modo e meio, pelo menos é o que transparece pelos escândalos em que ambos foram protagonistas. E como meliantes acabaram na cadeia. E a fé no gênero humano cada vez mais arrefece, infelizmente...
“João e Luiz Ignácio foram bons até o momento que deixaram de ser. É uma pena porque ambos deixaram de servir para serem servidos. Só os incautos acreditam que tudo não passa de calúnia. Cegos são aqueles que não querem enxergar!”
Edson Vidal Pinto