Jogada Política
Não, não é querer ser arauto da desgraça, mas está às escancaras que o vírus da COVID-19 está infectando mais gente em Curitiba, tanto assim que as notícias dão conta que para os casos mais graves os hospitais não têm mais leitos disponíveis para internação. O relaxamento das regras de prevenção no período eleitoral está cobrando o seu preço. Ou alguém duvida? Evidente que nem o expansivo Alcaide e muito menos o invisível Governador tentariam impor regras mais rígidas como forma de conter o vírus chinês, para não comprometer a gloriosa campanha de reeleição articulada por ambos, a fim de manter nas mãos a Máquina Oficial.
Pois se com uma já é um trunfo imagine com as duas para se reeleger? Óbvio que estar no governo é muito mais fácil para permanecer no comando do estado ou do município, do que concorrer sem o aparato oficial e ter de garimpar votos como simples mortais. E o pacto entre Governador e Prefeito faz com que seus titulares permaneçam politicamente em situação de superioridade contra qualquer eventual opositor. O resultado das urnas com a reeleição do cantor do hino de Curitiba foi estrondoso e sem contestação. Quando existe união de forças não há adversário que resista. Assim, projetando a reeleição do Governador com igual esquema não há nenhuma dúvida que igual objetivo será alcançado. E o detentor de cargo eletivo que não quiser arriscar perder “o bem bom”, só resta se aliar com a “dupla” em questão para dormir sem maiores preocupações.
Tudo bem? É assim ou não é? Claro que é não é mesmo? Já que concordamos, vamos agora tratar do que nos preocupa: o Coronavírus. Viram que estamos ainda com a “bandeira amarela”? Ué, mas a doença não está se alastrando por toda a cidade? Pois é, só que depois da eleição entramos na fase da hipocrisia política, ou seja, nem o Governador e muito menos o Prefeito querem assumir suas omissões durante a campanha da reeleição, pois seria suas confissões de que procuraram ignorar os problemas de saúde do povo para ganharem votos.
E nenhum deles quer assumir esta desídia. A intenção agora é dar alguns dias, talvez uma semana a mais ou menos, para então desfraldarem a “bandeira vermelha”. Daí virá o anúncio da impávida secretária de saúde municipal mandando com veemência que os idosos permaneçam confinados em suas casas, que o comércio cerre suas portas, que a economia vá para o brejo e que cada um evite o contágio como puder.
E quem sobreviver ao vírus que seja agradecido e não esqueça de reeleger o Governador. Ou será diferente: a frouxidão continuará independente dos males do vírus? E como saber? Só há um jeito: consultar a mãe Angélica, a mais nova vidente que veio da escuridão do Amapá para espargir luz e iluminar a mente dos incautos eleitores curitibanos. Eu mesmo resolvi encarar este desafio. Com auxílio do Waze cheguei na casa da mulher, localizada na periferia, depois das apresentações de praxe fui logo perguntando:
- A senhora pode me dizer se vira o “arroxo” contra o Covid?
- Com certeza! - respondeu a vidente com uma convicção que fez arrepiar todos os cabelos de minha careca.
- Quando? - insisti.
A mulher embaralhou as cartas do Tarô e depois virou algumas delas sobre a mesa, ficou pensativa e emudeceu. Pensei: ela deve ter visto alguma coisa que não gostou. O que será? Mas não interrompi o silêncio e fiquei aguardando a resposta. E minutos depois o silêncio na sala era sepulcral. Os olhos da vidente estavam vermelhos e vi algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Fiquei mais curioso e preocupado com o que ela iria dizer. E assim permanecemos mudos e calados por mais de meia hora, quando então não aguentei:
- O quê a senhora leu nas cartas? Pode me dizer?
A mulher olhou bem nos meus olhos, com a cara de quem comeu e não gostou, permanecendo calada e fria como um túmulo. Levantei-me e saí de fininho da casa, entrei no carro e nem olhei para trás. Foi só daí que me dei conta que fiquei sem saber se terá ou não “bandeira vermelha” hasteada na frente da Prefeitura e do Palácio Iguaçú. Mas ainda acho que não levará mais de uma semana para o anúncio oficial do arroxo. E você? Também acha? Ou vai querer consultar a mãe Angélica? Se quiser eu tenho o endereço da mulher para te dar ...
“Covid ou não Covid, eis a questão. Arroxo ou sem arroxo, eis uma grande dúvida. Quem sabe o dia de amanhã? O vírus ainda reina absoluto num reino que não tem lei. Ó Zeus, que ano, que século, que chato, que mierda!! “
Edson Vidal Pinto
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