Jogos Olímpicos
Quando vejo pela televisão os atletas correndo, saltando, nadando, pulando obstáculos, boxeando, dando o máximo de si para alcançar a glória olímpica não sei porquê lembro de meu saudoso pai Bernardo. Não ele nunca foi a nenhuma olimpíada mas se comportou em vida como um atleta sem nunca tê-lo visto numa academia esportiva ou se alimentando adequadamente para entrar numa disputada que não fosse lutar bravamente para poder manter sua família. E que atleta foi o meu pai.
Não conheceu e nem teve o carinho de uma mãe pois quando nasceu minha avó Anna Maria morreu no parto, filho único foi criado por um padrinho e meu avô Gustavo, da marinha mercante, embarcou em um navio e foi viver no mar. Neto de portugueses e sem família de sangue por perto aprendeu na rua tudo da vida porque era um ótimo observador e autodidata, sabia matemática como poucos e redigia com facilidade pois não lhe faltava criatividade. Nunca cursou uma faculdade pois casou muito jovem e tinha obrigação de ganhar o pão de cada dia. Ingressou no Ofício Público onde alçou bons voos, nele realizou-se profissionalmente mas com muito esforço e comedimento. Viveu para a família e amou seu casal de filhos sem exigir nada em troca. Como atleta olímpico nunca ficou triste quando era vencido mas jamais deixou de competir mesmo há exaustão. Apesar de um início de vida difícil foi um homem alegre, fazia das coisas simples os bons momentos para serem lembrados, deixou filhos formados, esposa e netos quando ainda jovem Deus decidiu chamá-lo.
Teve todas as medalhas de ouro em tudo que competiu sem nunca ter subido em nenhum pódio porque na simplicidade construiu sozinho uma vida de respeito deixou um nome honrado. A riqueza que legou foram os momentos felizes que compartilhou com a família, parentes e àqueles seus amigos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Meu pai foi um antoninense que amou sua terra e viveu para deixar boas lembranças. E eu sou a sua continuação mas sem o lustro de seu brilho apesar de tentar um dia merecer ser lembrado como ele pelos meus filhos, nora e netos. Se ele estivesse entre nós com certeza estaria comemorando esta data sentado na ponta da mesa com minha mãe e rodeado dos filhos, genro, nora, netos, bisnetos e trinetos.
E seus olhos estariam repletos de lágrimas porque estas faziam parte das suas emoções quando via a sua família reunida -, ou quando assistia seus filhos vencendo obstáculos e lutando como ele lutou para construir suas famílias. Meu pai foi o meu herói olímpico, um maratonista incansável, um ginasta que nunca perdeu o equilíbrio e um nadador que nunca soube o que era perder o fôlego. Pois sabia que sua mulher e filhos precisavam de sua força, do seu empenho e da sua tenacidade de protetor e amigo para podermos caminhar sem sustos. E só de lembrar de sua figura humana, das canções que cantava em casa, do som do bandolim que extraía quando assobiava torcendo a língua e do abraço amoroso que dava, fico feliz por ter tido um pai de verdade.
Ah, mas se eu pudesse voltar alguns anos atrás e ele ainda estivesse ao meu lado como eu gostaria de festejar o “dia dos pais” com o meu rosto colado em seu peito, ouvindo o tic-tac de seu coração, cuidando como um sentinela indormido para que seu precioso “relógio da vida” não parasse de repente, como parou …
“Felizes os filhos que tem pai vivo e podem comemorar o dia do pais. Felizes os pais que podem abraçar seus filhos neste dia especial. Felizes são os avôs e bisavôs porque são mais do que pais. Mais felizes ainda são aqueles que tiveram pai de verdade, campões olímpicos de um olimpíada chamada vida!”
Edson Vidal Pinto
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