Lapa: Cidade Histórica!
A Lapa foi a terra onde nasceram meus avós maternos, meus tios e minha mãe; eu embora nascido em Curitiba morasse naquela cidade até os três anos de idade. E quando iniciei minha carreira profissional no Ministério Público em 1.968, por força do acaso fui Promotor Substituto daquela comarca e posteriormente em 1.972 retornei na condição de Promotor de Justiça, quando então lá residi com minha família por dois anos.
Portanto tenho muito amor pela cidade e guardo com especial carinho as lembranças de minha passagem e saudades dos amigos que lá deixei e outros que moram junto às estrelas. E desde aquela época eu pensava: como D. Pedro II resolveu se aventurar pelo interior do país, visitando cidades e dentre estas a pequena Lapa? Como pode o imperador em 1.880 sabendo que teria de enfrentar o sertão, viajar de carruagem em estradas precárias, sujeito a violência, doenças e o desconforto mesmo assim se aventurar com inusitado destemor por lugares desconhecidos? E só assim que no dia 30 de maio ele e sua comitiva real chegaram à cidade.
E o ponto alto de sua permanência foi à primeira apresentação no Teatro São João quando o arquiteto responsável pela obra, Sr. Francisco Teres de Porto, declamou no palco uma poesia. Lembro a título de curiosidade que naquela cidade participei de uma parada cívico-militar comemorativa a Independência do Brasil, ocasião em que o saudoso lapiano, escritor e ilustre advogado Dr. David Wiedmer Neto, usando do microfone do palanque oficial discorreu com detalhes como foi que a notícia da independência do Brasil “chegou” na Lapa.
A notícia vinda de São Paulo percorreu longo trecho e seu arauto veio de cavalo, que era trocado por outro ao longo do caminho, e levou vinte e seis para o “grito” chegar à Lapa. O Dr. Davi explicitou qual foi o itinerário percorrido e inclusive declinou o nome do cavaleiro que trouxe as boas novas. Não cito seu nome e nem as cidades percorridas porque sou traído pela minha memória.
O retrato da cidade é de um lugar hospitaleiro e calmo, tem um mobiliário urbano colonial e ruas de paralelepípedos. A Igreja matriz é a de Santo Antônio (Padroeiro da cidade), mas é no Santuário de São Benedito a festa paroquial anual com a realização de procissão da imagem do Santo pela cidade.
Eu dos sete aos dez anos de idade participei desta procissão, vestindo uma opa sobre meus ombros, para pagar promessas que minha mãe fazia. Na cidade vale a pena saborear a típica comida da terra (ovo frito, tutu com torresmo, costela de suíno, arroz, feijão preto e linguiça) e visitar sem pressa o alto do “Monge”, um morro de pedras que tem piscina natural e serviu de morada do monge Antônio Maria, personagem místico e folclórico.
A visita ao Panteão dos Heróis da Revolução Federalista de 1.894 é obrigatória para os turistas conhecerem sobre o Cerco da Lapa, episódio de realce na Historia do Brasil. E na volta para Curitiba é possível entrar de automóvel no pátio interno do antigo Hospital São Sebastião, onde os pacientes tuberculosos eram internados, e conhecer o museu que está aos poucos sendo montado no local e registra a sua importância para os paranaenses.
Seja na entrada da cidade ou na saída não se deve deixar de admirar na Rua das Tropas o mural do saudoso e imortal Poty. Lembro quando criança na época em que meus pais me levavam na festa de São Benedito que ficávamos hospedados no Hotel Zappa, localizado na frente da estação ferroviária.
Esta estação foi posteriormente mudada de lugar, em razão do novo traçado da linha férrea para bem distante do centro, onde até hoje a cidade não conseguiu chegar. Vamos à Lapa? É sessenta quilômetros de Curitiba, estrada asfaltada, passa ao lado de Araucária, Contenda e Mariental e sua estada pela cidade será como dar um pequeno pulo ao passado...
“A viagem do Imperador D. Pedro II pelo Paraná, bem poderia render um ótimo roteiro de filme ou um peculiar livro de história. Não dá nem para imaginar as dificuldades enfrentadas no longo e inóspito caminho. E Viajar à Lapa propicia condições de melhor aquilatar aquela aventura, basta se deixar inebriar pela atmosfera que a cidade irradia!”
Edson Vidal Pinto