Lar Doce Lar
É ótimo viajar, mas retornar para casa não tem adjetivo! Gostei de visitar a cidade de Chicago porque realizei o meu sonho escondido, assimilado em minha memória pelos filmes inesquecíveis de minha adolescência. Antes mesmo do comandante desligar as turbinas da aeronave meu coração quase saltou do meu peito. Quando a porta abriu fui o primeiro a descer em direção ao saguão das bagagens e quando coloquei meu pé no hall do aeroporto vi um homem segurando uma placa escrita com o meu nome: ali estava meu anfitrião! Elliot não tinha mudado em nada, apesar do outono estar iniciando ele estava de sobretudo e chapéu. Demo-nos as mãos e ele me conduziu para um carro, Chevrolet, modelo 1934, da cor preta, que sobressaia no trânsito. Fomos de imediato aos arredores da cidade. Ele estacionou o carro no frente de um bar. Local suspeito. Entramos. Elliot ficou estrategicamente de costas em uma coluna e eu me aproximei do balcão:
- Quero um wisky, puro!
O atendente me olhou com certa desconfiança. Ele era gordo, careca, de meia estatura, estava vestido com camisa de mangas curta, um avental que lhe cobria a cintura. Virou-se o suficiente para apanhar a garrafa e logo encheu o copo que estava sobre o balcão com uma dose generosa da bebida. Encarei o barman e num só gole sorvi o líquido. Minha cabeça parece que ia explodir, a bebida escorreu por minha garganta como lava de vulcão e quando caiu no meu estômago senti o fogo do inferno! Dai me dei conta que wisky falsificado é trinta vezes pior que Drurys! Segurei no balcão para não cair.
- Mais uma dose, senhor?
Encarei o barman com ódio mortal. Ele devia estar me gozando. Mesmo assim minha cabeça caiu para frente, com ar de ironia ele encheu de novo o copo. Dei nova talagada!
Não senti absolutamente nada. Meu corpo estava leve, eu estava nas nuvens! Alguém me sacudiu. Abri os olhos e vi a aeromoça, ela me acordou porque o avião estava prestes a aterrissar. Olhei para fora da janela e vi a cidade de Chicago com toda a sua história de gângster e mistério. Ainda bem que o Elliot Ness não estaria me esperando com seu carro antigo, nem me levaria para um bar que transgredia a Lei Seca. Respirei aliviado que Al Capone e seu bando não estavam mais vivos! O avião desceu aos trancos e barrancos, porém eu tinha chegado são e salvo. Chicago é uma cidade importante dos Estados Unidos, com indústrias de porte, moderna e rica. E quando deixei a cidade para trás, rumando à Nova York, pensei em viver mais um inesquecível sonho de minha
adolescência em Chinatown. E vivi, como contarei mais adiante. Por enquanto, paro por aqui, pois ainda estou fora do fuso horário! Talvez seja pela ressaca do wisky falsificado que tomei ...