Leitura de Domingo
Por ser um típico dia de descanso e lazer o domingo é um dia preguiçoso para alguns e agitado para outros. Explico: quando se é jovem cada minuto tem que ser bem aproveitado; para àqueles que estão em “reclusão social” por causa do Covid o dia é longo e monótono. E o pior: amanhã será feriado, portanto será um dia igual ao de hoje - os mais jovens vão aproveitar de todas as formas o tempo; e os “enclausurados” com certeza vão contar quantos tic-tac fazem as batidas daquele relógio cuco, pendurado na parede do corredor.
E para os que tem paciência de ler minhas crônicas num dia como hoje, vou tentar escrever um assunto que possa ser agradável e não exija nenhuma reflexão : em outras palavras vou descrever uma cena acontecida no gabinete de um Juiz de Direito. Primeiro quero fazer um pequeno preâmbulo, aliás bem necessário nos dias atuais. Você de tanto ler e ouvir comentários desairosos envolvendo Magistrados, principalmente daqueles que estão nos Tribunais Superiores em Brasília, não pense que a Magistratura é constituída de pessoas irresponsáveis e inconsequentes.
Pelo contrário, a esmagadora maioria de Juízes e Juízas são cumpridoras de obrigações, tem famílias bem constituídas, são cidadãos de bem e zelam pelo prestígio e a honorabilidade de suas Togas. E não é fácil julgar com imparcialidade quando não se tem vocação ou quando o cargo é ganho de presente de um padrinho poderoso, estes não são os verdadeiros Juízes mas sim os ungidos que deslustram a Toga que vestem. O episódio que vou narrar aconteceu com um Juiz de verdade.
Há muitos anos atrás o Juiz nas comarcas do interior faziam a chamada “clínica geral”, pois em razão de estarem sozinhos tinham que resolver as questões administrativas do fórum, dos funcionários e serventuários, presidia e julgava todos os processos cíveis, criminais, menores infratores, família, trabalhista, presidia as Sessões do Tribunal do Júri e tinha total responsabilidade nas eleições e processos eleitorais. E além disto sempre atendia pessoas que lhe procuravam diariamente para um aconselhamento familiar e até de negócios. E ninguém se furtava desse atendimento em razão da simplicidade e esperança que o povo humilde depositava no seu Juiz. E o “causo” em questão aconteceu no gabinete do Juiz da Comarca de Telêmaco Borba quando este ouvia um casal que queria se desquitar a todo custo. Na verdade quem queria “mais” era a mulher porque o marido quando bebia ficava furioso e agredia a pobre esposa:
- Mas não dá para pensar um pouco mais, dona Maria? - indagou o magistrado.
- Num, num dá ...
- Nem o marido prometendo que vai deixar de beber?
- Mesmo assim, seu doutor. Pois o homem promete mas não cumpre. - insistiu a mulher.
- É verdade seu João ?
- É a pinga, eu não posso esconder que gosto muito da “branquinha”. É por isto que não prometo nada ...
- Mas o senhor sabe que no desquite a mulher tem direito a uma pensão.- disse o Juiz.
- Pensão ?
- É o senhor vai ter pagar para sua mulher poder sobreviver ...
- Tá, até cem cruzeiros eu pago por mês, agora se o senhor quiser que eu page mais do que isto, eu prefiro ficar com a mulher!- arrematou o marido.
- Mas sem beber ? - quis saber o Juiz.
- Sem beber, porque essa tal de Justiça é muito cara!!
E assim o caso foi resolvido e o casal saiu de braços dados do fórum. E episódios como estes eram diários; contá-los é um privilégio daqueles que passaram por tudo isto e que ainda continuam amando e respeitando a velha Toga que vestiram ...
“A profissão de Juiz exige vocacionados, indivíduos probos e obedientes a Lei.
Desvios de condutas acontecem em qualquer profissão em razão da falibilidade humana. Nenhum Juiz quer mais de seus jurisdicionados do que o respeito e que tenham a consciência de separar o joio do trigo. Num país onde não existir o brilho da Toga, não existe Democracia.”
Edson Vidal Pinto
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