Leitura Prazeirosa
Para quem gostar de uma leitura cheia de surpresas e reveladoras sobre os bastidores forenses, narradas de maneira escorreita e com toque de humor, não pode deixar de ler o livro de Sil Loyola “Entre Causos e Causas Rir é a Melhor Sentença” (da Editora Juruá). A autora é uma jovem senhora curitibana, esposa de Juiz de Direito e filha de Procurador de Justiça, que conheceu de perto a vida das pessoas das cidades do interior do estado e vivenciou as atividades dos profissionais da justiça nos meandros dos fóruns, local de episódio graves e outros jocosos que fazem parte de um cenário pouco conhecido de muitas pessoas. Nesta sua obra a autora presenteia os leitores com páginas alegres de “causos” reais e ao mesmo tempo com toques de sofisticada ficção para dar mais sabor a leitura.
Escolhi uma das cenas deste teatro de páginas para realçar o livro, numa síntese, sem nenhum estilo parecido com o da autora. O Juiz estava trabalhando no seu gabinete quando foi interrompido pela escrivã do Cartório Civil, perguntando se ele poderia atender uma senhora, idosa, que era parte de um processo. Quando ela deu o nome da pessoa o Magistrado respondeu que a mulher já tinha sido atendida por duas ou mais vezes, mesmo assim, por dever profissional, mandou que ela entrasse. A idosa era autora de uma ação coletiva que objetivava embargar a demolição de um antigo prédio que funcionara como um hospital psiquiátrico, em cujo local seria construído um supermercado. E da janela do fórum dava para ver as ruínas do imóvel. Na conversa o Juiz disse que estava estudando o processo para decidir. A senhora tentando justificar o porquê da ação proposta disse que naquele hospital muitos pacientes sofreram e morreram, sendo por isto um lugar sagrado onde almas perambulavam. Claro que este argumento não estava na petição inicial, mas o Juiz para evitar outras audiências como esta, prometeu que levaria o processo para casa e na manhã seguinte a sentença estaria disponível no cartório. À noite leu o processo e ficou convencido que nada justificava o embargo da obra, salvo o argumento ofertado pela mulher em seu gabinete, mas sem nenhuma outra justificativa. E julgou improcedente a lide. E da janela do fórum testemunhava o velho prédio em ruínas. O dono da área desistiu da construção. Tempos depois um outro empresário comprou o imóvel do hospital para construir um shopping, a notícia correu por toda a cidade, o que era do agrado de todos porque daria novos empregos e progresso para a região. Desta vez não houve embargo para impedir a demolição do Velho casario. No entanto o tempo foi passando, o Juiz olhava da janela do fórum as ruínas, que permaneciam do mesmo jeito, e nada. E o tempo passou e o shopping ficou na saudades. Única coisa que mudou foi o Juiz que passou a frequentar a Igreja com mais habitualidade. Não que ele tivesse receio de almas penadas, em absoluto, mas que elas existem, existem!
É claro que este conto na narrativa da autora é muito mais saboroso e divertido.
Apenas me atrevi em dar uma roupagem ilustrativa para falar do livro. Este é imperdível para quem gosta de uma prazeirosa leitura e conhecer um pouquinho mais dos homens e mulheres de togas e becas, que fazem de suas vidas o cotidiano forense…
“Silvana foi uma menina que conheci na casa de seus pais, em Cruzeiro do Oeste,região noroeste do Paraná, onde seu genitor Milton Furtado foi Promotor de Justiça e sua mãe Glórinha, lecionava piano. Época difícil com estradas de barro, comunicação precária, cidades com poucas estruturas e residências sem conforto. . O livro de sua autoria reproduz muitas cenas daquela época, conta um pouco de história e muitas verdades.”