Livro & Conto.
Sábado, 18 de março.
Tempo nublado, parece que o outono Curitibano está se aproximando aos poucos, pois houve uma significativa queda de temperatura. E como é sábado (conferi muito bem no calendário, pois ontem na minha crônica diária errei o dia da semana!) achei melhor transportar o leitor para o mundo mágico da literatura. Vou resumir a história de um livro antigo, mas que está registrado no Google há disposição, e que ainda guardo em minha memória desde que li nos idos de 1.960.
Naquela época a pediatria como especialidade médica tinha profissionais renomados que dedicavam suas vidas na árdua tarefa de proteger a saúde das crianças, dando tranquilidade e segurança aos pais e demais familiares.
Cito alguns nomes de reconhecida competência: Drs. Israil Kat, Plinio de Matos Pessoa, José Weninger, Haroldo Beltrão, Oriente Franco de Godoy, Ivan Beira Fontoura, Mauro Scaramuzza, Raul Carneiro, Luiz Fernando Beltrão, Domício Costa e Altivo Ferreira. Fiz propositada referencia a estes nomes porque o autor do livro está no elenco destes médicos e a história narra na medida certa à luta profissional que travavam contra os males que afligiam seus pequenos pacientes.
O saudoso escritor chamava-se Altivo Ferreira e o livro que escreveu se intitula "O Cocotólogo". Nome estranho por ser de pouco uso, mas próprio para a coletânea de contos , pois "cocotologia" nada mais é o que a arte de dobraduras, hoje chamada de "urigame". As figuras de papel têm significado profundo para quem lida com crianças pela sensibilidade com que as enxergamos.
A história embora simples parecesse ter sido extraída do cotidiano e serve para pensar e meditar. Vou resumir: o menino chegou com convulsão no hospital e seu estado de saúde era desesperador. Os pais estavam temerosos com o risco de morte que rondava o pequeno ser. Cinco anos de idade! O médico pediatra que atendeu usou de tudo que seu conhecimento permitia e da medicina que dispunha para salvar o paciente. Foram dias e noites de tempos sofridos e incertos até que o menino começou a reagir e salvou-se.
O médico explodiu de alegria porque conseguira tirar aquela criança dos braços da morte. Mais alguns dias e ocorreu a alta hospitalar. Duas semanas depois o garotinho estava andando de bicicleta na calçada da frente da residência, sob o olhar atento da mãe, quando um carro desgovernado subiu na calçada e atropelou mortalmente o menor. Quando o pediatra soube do ocorrido ficou inconformado.
Ele pensou que perda de tempo foi sua luta para tirar a vítima dos braços da morte se estes dias depois conseguiu alcançar seu intento. À noite quando dormiu o médico foi acordado pela figura da morte.
Assustado ouviu quando ela falou:
- Doutor, não fique triste porque levei seu pequeno paciente comigo, lutamos um bom combate entre nós, mas tinha chegado ao fim à permanência dele na terra!
- Você é insensível - respondeu o médico - ele era uma criança e agora foi para um mundo das trevas!
- Trevas? - indignou-se a morte - Você sabe como é o outro lado da vida? Claro que não! Pois vou levá-lo para conhecer.
E em fração de segundos o médico estava no Além. Viu crianças brincando, pessoas felizes num mundo de Felicidade perene. Viu seu pequeno paciente dando risada em cima de uma gangorra.
- Como? - falou o pediatra - Então este é o Além? Que maravilha! Como sou tolo em lutar contra você!
- Não! - Respondeu com firmeza a Morte - esta é a sua missão, assim como é a minha aterrorizar os vivos!
- Por quê?
- Porque é a vontade do Criador. Ele quis que todos tivessem medo de mim para que existisse vida na terra. Lá cada um planta o que colhe, mas se soubessem que o Além é o próprio paraíso, ninguém mais lutaria pelo instinto de sobrevivência. E o Senhor quer depurar cada indivíduo.
Só dai o pediatra acordou! Olhou para o Alto e começou a entender melhor os desígnios de Deus. Colocou seu jaleco branco e partiu feliz para seu trabalho.
Esta a história que lembro. Vale ou não para uma boa reflexão?