Madona, no pior momento.
Quem gosta do ritmo agudo e barulhento dos instrumentos musicais, da Madona e da parafernália coreográfica de seus acompanhantes, com certeza aplaudiu e vibrou com o que viu e ouviu na praia de Copacabana. Não tiro o mérito da grande artista pela voz que Deus lhe deu, pois quem assistiu “Evita” no cinema e pode ouvir o som mavioso de sua voz afinada e sua performance como intérprete, sabe muito bem o valor que ela tem e seu papel de grande estrela no cenário mundial. Também é justo que grandes astros do mundo artístico e esportivo ganhem fortunas, porque atrás de cada um deles uma legião de empregados e famílias que vivem de suas famas, como base para suas sobrevivências. Um Caruso, um Marlon Brando, um Sinatra, um Elvis, um Jackson, uma Elizabeth Taylor, um Pelé, um Senna, um Guga ou um Oscar atraem (ou atraiam) multidões que ao assisti-los vivenciavam momentos inesquecíveis para suas vidas, além da admiração que cada qual despertava pela arte que representavam. Suas vidas? Não tinha nenhuma importância porque por mais devassa que fosse para o fã só interessava a aparência, a suntuosidade do show e a a apresentação cênica. Neste contexto se enquadra a Madona, diva da música pop.
Quanto ela ganhou para vir ao Brasil pouco importa; interessa saber quem pagou.
Caso tenha sido um ou mais empresários nada contra, pelo contrário, louve-se o desprendimento por não visarem lucro algum. Sim, pois o espetáculo foi na praia e ao que tudo indica a entrada foi gratuita. Pelo que parece teria sido o governo do Rio de Janeiro ou do município que pagou o cachê e custeou todo o espetáculo. Se foi, vamos e venhamos, foi num momento errado. Não importa que a vinda da Madona possa ter proporcionado ao comércio da cidade um giro de milhões e milhões de reais, aumentando a arrecadação dos cofres públicos a ponto de pagar pelo que foi gasto com o referido show. Pois o Rio de Janeiro tem e vive uma realidade cruel: criminalidade, pobreza e orgia política com o dinheiro público. A intranquilidade que vive o carioca, praticamente acuado nas áreas da zona sul, necessita que o estado invista grandes recursos na Segurança Pública com contratações de pessoas e reposições de uma logística indispensável para fazer frente a bandidagem dominante. Sem falar da fome nas periferias que possibilita que os traficantes arregimente crianças e adolescentes para expandir suas redes criminosas. Portanto, não era hora para patrocinar a Madona e nenhum outro artista do cenário mundial. E, ainda, no clima de tristeza que o país está envolto, com a tragédia no Rio Grande do Sul. Claro que o show não poderia ter sido cancelado porque o prejuízo para o estado seria catastrófico. Mas que o espetáculo perdeu muito do seu brilho perdeu, porque os habitantes dos três estados do Sul estavam muito mais ligados nos acontecimentos que afligem nossos irmãos gaúchos, do que assistir pela TV a rainha do pop …
“Patrocinar show com dinheiro público é tapa na cara de quem passa fome.
Na atual conjuntura política do país, o ordenador de despesas deve zelar para evitar desperdício e desvio de verbas que não sejam destinadas às políticas públicas. A política no Rio de Janeiro é um caso de polícia”.