Matando a curiosidade
Em tempo de pandemia vale tudo para driblar o ócio, principalmente quando se está na “zona de risco” e a família impõe, junto com os governantes, o toque de recolher. E assistir TV é uma distração obrigatória. Eu estava assistindo o canal SMITHSONIAN HD, 590 da Net, quando me despertou a curiosidade de saber que programação é essa que aborda exclusivamente matérias que retratam a vida, a história, as cidades, a fauna e a flora, as montanhas, rios e lagos dos Estados Unidos da América.
Diga-se de passagem, são produções de alta tecnologia e imagens sensacionais. E passei a pesquisar. E não demorou muito para achar um livro da estante do meu escritório, intitulado “Os Grandes Mistérios do Passado”, edição de Julho de 1.996, da Seleções do Reader’s Digest, grafado em maiúsculo em uma das páginas: “ Uma Fortuna a Favor da Ciência” - contando a história de um nobre britânico, chamado James Smithson, nascido em 1.765 na França, para onde sua mãe fugira para evitar o escândalo da gravidez por ser o mesmo filho bastardo de um nobre inglês. E Elizabeth, sua genitora, descendente do rei Henrique VII, pretendia criar o filho onde pudesse superar o estigma da ilegitimidade. E só retornou à Inglaterra quando o menino tinha dez de idade quando, então, foi naturalizado cidadão britânico, sem as regalias próprias reservadas aos nacionais, por isso dedicou-se às ciências.
Na Universidade de Oxford adquiriu fama de ser um notável químico e mineralogista. Ficou milionário. Viu eclodir a revolução francesa que derrubou a monarquia e ficou horrorizado com o terror imposto pela nova república que logo em seguida foi sucedida pelo império de Napoleão. Em paralelo ouviu dizer de um governo democrático dos recém-criados Estados Unidos da América, país onde jamais visitou, mas que ele intitulava de “Nova Atenas”. Assim, deixando de lado as turbulências do Velho Mundo e da monarquia, James e muitos de seus colegas cientistas diziam que as futuras descobertas deveriam ocorrer em país republicano e não nos feudos oligárquicos.
Foi com igual intenção que solteiro e rico, James Smithson em 1.826, com a idade de 61 anos, por testamento escrito deixou sua fortuna para um sobrinho e se este não deixasse herdeiros legava todos os seus bens aos EEUU, para que fosse criada uma instituição com o nome de SMITHSONIAN INSTITUTION para difundir conhecimento entre os humanos. Três anos depois do testamento James faleceu, sendo enterrado em Geneva na Itália; e seis anos depois, morria o sobrinho, sem deixar herdeiros. Daí uma discussão. Os parlamentares americanos não queriam que o país recebesse a herança de um estrangeiro. Só houve consenso em 1.838 quando chegou no porto de Nova York , um navio carregado com 105 sacos de soberanos de ouro, na época avaliado em meio milhão de dólares.
E o testamento foi cumprido com a construção da sede da Fundação SMITHSONIAN em Washington, cujo Conselho gestor (até hoje em dia) é composto pelo Presidente da Suprema Corte, pelo Vice-Presidente da República, três congressistas, três senadores, seis cidadãos do povo, e dirigido por um notável professor de Ciências de Universidade Americana. E a fundação tem modernamente vital importância em diversos setores da vida humana, com multifacetadas atividades: museus, zoológicos, preservação de animais e defesa da ecologia, observatórios de pesquisas espaciais, publicações de trabalhos científicos, bibliotecas, condições climáticas no mundo e o canal de TV, do qual me deu chances para esta simplória pesquisa.
Puxa, como tem pessoas altruístas por esse mundo afora, homens e mulheres, cujas biografias na maioria das vezes nem conhecemos, mas que se preocuparam com as gerações futuras, beneficiárias destas benesses. E nós? O que estamos deixando de legado para nossos filhos, netos e bisnetos? E para o nosso próximo? E para humanidade? É bom pensar para quando chegar o dia de escrever o nosso próprio testamento ...
“Beneficiar o próximo sem olhar a quem, traduz a magia de quem soube viver.
E não são apenas bens materiais que podem fazer a diferença; também são palavras de carinho, gestos e incentivos que muitas vezes servem de estímulo para alguém continuar andando.”
Edson Vidal Pinto
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