Menos Um Farol Sem Luz
Na turbulência do mar agitado em plena tempestade, o marinheiro mesmo na noite escura não deixa de olhar para o horizonte, sentindo o barco balançar para todos os lados e as ondas bater de frente na proa, rezando para enxergar um fiapo de luz. De repente, ele vê dentre as névoas escuras e respingos frenéticos do poderoso mar as primeiras vesgas de luminosidade que aparece e desaparece bem ao longe.
Seu coração então volta ao ritmo normal porque ele sabe que está perto do continente e que dali há poucos minutos estará descansando em sua cama aquecida, no aconchego da família. É o que representa aquele facho de luz vindo do farol que lhe dá a certeza de estar navegando com segurança e no rumo certo. E assim é a vida. Todos nós para trilharmos o caminho da existência necessitamos olhar para os faróis que escolhemos e que servem de guia para não nos perdermos, para nos dar esperança e certeza do caminhar sem tropeços.
Estes faróis são pessoas como a gente, porém, com a diferença de que nós fazemos o melhor possível para nos espelhar em cada um deles, porque eles são os bons exemplos a serem seguidos. Na verdade, eles são nossos “Anjos” de carne e osso, amigos que encontramos no acaso, mas que respeitamos, admitamos e confiamos. Eles servem de faróis ao longo de toda a vida, muitas vezes, sem saberem disto porque nunca se imaginariam que tivessem tantas importâncias para alguém, nem sempre tão perto. Hoje eu caminho sob os fachos de luz de não tantos faróis como eu tinha para me iluminar, porque pelos meus setenta e cinco anos de idade, muitas destas luzes se apagaram e só os faróis ficaram como lembranças imorredouras. Muitos de meus eleitos “faroleiros” foram morar nas estrelas.
E ontem foi um dia triste porque mais uma luz de um farol apagou. Meu amigo do coração o Juiz Teodoro Fernandes da Cruz Neto, um chefe de família exemplar, um cidadão probo e um Magistrado integral, que era uma de minhas referências de melhor exemplo a ser seguido e que sem saber manejou a luz de um dos meus faróis, também resolveu morar lá longe, numa das estrelas. Ele pertenceu a uma geração diferenciada de Juízes, nos tempos difíceis de uma carreira franciscana e espinhosa, tendo desbravado o interior do Paraná, percorrendo estradas sem asfalto, comarcas de fóruns de madeira, sem água encanada, luz precária e sem telefone. Independente nunca aceitou pedir promoção e por isso não chegou ao Tribunal de Justiça.
Aposentou-se como Juiz de Direito da Capital, quando então guardou sua Toga sem uma mínima mancha. Dedicou-se então à advocacia com igual êxito e honradez. Foi professor universitário e forjou uma legião de ótimos Magistrados. Nos enfrentamos no campo de “pelada” localizado no pátio dos fundos do Palácio Iguaçu, Sede do Governo Estadual, por mais de trinta anos seguidos, todos os sábados à tarde, com sol, chuva ou geada. Num grupo ímpar composto de Juízes, membros do Ministério Público, médicos, engenheiros e empresários.
Tudo isto ficou nas saudades! E agora choro a dor sentida de mais um amigo querido que se foi e que deixou o meu caminho com menos brilho e com pouca luz ...
“Viver e morrer completa o ciclo de todas as vidas. Quando sentimos a dor da perda porque alguém foi morar nas estrelas, entristecemos mesmo sabendo que faz parte da existência. E se merecermos; um dia iremos também morar numa estrela depois de ter iluminado o caminho de alguém!”
Edson Vidal Pinto
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