Meu Primeiro Emprego
Hoje, 17 de janeiro, terça feira.
Quando digo que nunca trabalhei na minha vida, algumas pessoas acham que eu estou mentindo. Mas não é mentira, não. Claro que no início não foi nada fácil, pois tive que me adaptar as minhas novas obrigações, horários e relacionamento com outros funcionários.
E o mais trágico de todos: o lugar onde fui trabalhar! Eu tinha catorze anos de idade, estava no auge da minha despreocupada vida de adolescente. Estudava pela manhã e folgava o resto do dia. Meus pais moravam na Rua Desembargador Motta, entre as Avenidas Iguaçu e Getúlio Vargas.
Na frente de casa tinham duas traves imaginárias que serviam de gol para a gurizada do bairro: o portão onde entrava para a garagem do carro do meu pai e do outro lado da rua o portão da garagem do vizinho. Naquela época não havia muitos carros trafegando pelo local, portanto a rua servia como um ótimo campinho de futebol. E o que não faltava era jogadores, todos ávidos em disputar qualquer bola que estivesse na frente. Minha família era matriarcal por excelência, pois minha mãe apesar de dócil sempre tinha a última palavra em qualquer ocasião.
Todos os dias o futebol corria solto na rua, dez e às vezes até quinze piás, disputavam clássicos e nunca faltaram pernas e braços esfolados. Tudo transcorria muito bem, eu até levava algum jeito com a bola, melhor do que muitos jogadores de hoje em dia. Certa tarde o destino interviu.
Minha mãe que nunca tinha prestado a atenção no que acontecia no campo improvisado abriu um pouco a janela da frente de casa e passou a olhar a algazarra dos promissores jogadores atrás da pelota, bem como ouviu os milhares de palavrões pronunciados a viva voz, sem dó e nem piedade para ouvidos mais sensíveis. Ficou escandalizada.
Foi minha última partida oficial! No dia seguinte meu pai conseguiu minha nomeação no Ofício Público e fui trabalhar (sob protestos!) no Almoxarifado de roupas da Maternidade Victor do Amaral, na Avenida Iguaçu.
Lá eu aprendi a catalogar roupas de gestantes, ligar o botijão de oxigênio na parede do Centro Cirúrgico, datilografar relatórios e conversar com o dentista Dr. João Faraj no consultório do hospital.
Ele me ensinou muito da vida, principalmente crescer e sempre olhar para trás. Minha dificuldade era explicar para meus colegas o que fazia dentro de uma maternidade! Tal a curiosidade de muitos sobre o que acontecia dentro daquelas enormes paredes. Mistérios que guardo até hoje, alegrias e muitos dramas. Porque a vida nem sempre é bela! E foi assim que moldei meu caráter, minha maneira simples de olhar os acontecimentos, de nunca me empolgar com eventuais sucessos alcançados profissionalmente, porque tudo é efêmero, passageiro, e que só os rastros ficam como lembranças.
Eu agora, na antevéspera de completar setenta e dois anos de idade (25 de abril) fico remoendo na saudade um tempo que se esvaiu, mas que continua vivo dentro de mim basta fechar os olhos e me vejo na rouparia da velha maternidade perdido nos meus pensamentos, mas projetando sonhos a serem alcançados. E com certeza alcancei muito deles, pois sempre trabalhei no que gostava e amava que era servir a Justiça, com dedicação exclusiva e respeito aos advogados e jurisdicionados.
Sem nenhum suor ou esforço porque só trabalha aquele que não gosta do que faz. Neste tópico posso me considerar um perfeito e ocioso vagabundo!