Minha Casa É Uma Farmácia!
Em 1.970 quando fui Promotor de Justiça da Comarca de Jaguapitã, cidade próxima de Rolândia, de vez em quando o dinheiro permitia e eu brindava minha mulher com um fim de semana em Londrina, onde nos hospedávamos no Hotel São Jorge.
A cidade fascinava pelo movimento do comércio, as ruas repletas de carros, Jeeps, Rural Willys, caminhões e não deixávamos nunca de assistir um bom filme no tradicional Cine Ouro Verde. A pujança vinha das grandes lavouras de café onde milhares de famílias trabalhavam nas fazendas por ser imperativa a mão humana para catar seus frutos.
Pelo menos olhar as vitrines da Casa Fuganti já agradava aos olhos pela variedade de produtos que ali eram vendidos; o comércio era variado e tinha de tudo que o consumidor precisasse. Mas o cartão de visitas mesmo, pelo menos eu achava na época, era o grande número de clínicas médicas e hospitais.
E era óbvio, pois Londrina era o polo centralizador que englobava varias cidades que orbitavam ao seu redor. Mesmo assim, pelo número de Centros Médicos não faltava quem não dissesse que a cidade era dividida em duas partes: uma de médicos e outra de doentes.
Mas Londrina era muito mais do que isto, era uma cidade paulistana encravada no rico solo vermelho do norte do Paraná. E até a letra erre dava o tom carregado no linguajar típico do morador da região. Ela era uma cidade do futuro, pois seu povo era empreendedor, pioneiro, arrojado e semeador de progresso. Hoje é uma cidade glamorosa, universitária, cosmopolita e uma pérola para ser sempre cultivada. Só não esqueço é da época das inúmeras clínicas e hospitais. E de tanto reparar nisto, vejo agora Curitiba como a cidade das farmácias. Gente, o que é isto? Tem farmácia ao lado da outra farmácia e na frente da terceira farmácia onde está localizado em terreno baldio que tem uma tabuleta anunciando: “Breve aqui. Farmácia!”.
A indústria farmacêutica entupiu a cidade de remédios de todas as cores, modelos, marcas, com conta gotas, sem conta gotas, com cheiro, sem cheiro, e com uma única coisa igual: o alto custo! Verdade, os produtos são muito bem cobrados e pelo jeito todo mundo ganha: os médicos, os laboratórios e as farmácias. Pois todos eles estão muito bem, obrigado.
E os consumidores destas drogas? Cada dia mais assustados, arredios e acuados. Grande parte do salário dos idosos é para pagar remédios. E tem os genéricos. O esculápio recomenda que não se deva consumir nenhum remédio que não seja de um bom laboratório; o farmacêutico, com dó, diz o contrário. E assim caminha a humanidade: tomo o genérico ou não tomo? Eis a questão. E o pior: descobri que em minha casa tem mais remédio do que muitas farmácias. E não sou hipocondríaco, não.
É que toda vez que vou a uma consulta médica acabo comprando uns dez remédios, minha mulher outros dez, consumimos menos da metade de cada caixa e guardamos o que sobrou no armário. E quando voltamos ao médico ele diz que saíram produtos novos e acabamos comprando mais uns vinte remédios, sendo que nenhum deles chega ao fiinal das caixas.
E empilhando caixa com caixa estou vendo que tenho de mudar de apartamento; o meu está ficando cada dia que passa menor, pois só posso usar a cozinha, a sala de jantar, um banheiro e o meu quarto. O meu lar é uma farmácia! Pois as outras dependências do imóvel servem para estocar os medicamentos que comprei nos últimos seis meses. Que desperdício de drogas e de dinheiro.
Acho que vou fazer um tabuleiro de madeira, colocar milhares de drágeas dentro dele, cobrir com açúcar, colocar em saquinhos de papel da cor vermelha e preta e vender como bala da marca “Christian Dior”, nas imediações da baixada no dia de jogo do ...
“Todo mundo doente na cidade? Pô, nem começou o inverno. Curitiba tem mais farmácia do que torcedores do Paraná. E o remédio que sobrar? O que fazer? Nada que a criatividade não dê um jeito!”
Edson Vidal Pinto