Mosquitinho Pólvora, O Chato!
É bom estar na praia e aproveitar a ociosidade para também ler e reler antigos livros que estão na estante da casa, com a sensação de folhear obras compradas do sebo.
Terminei de reler um livro editado em 1.964 pela Editora Civilização Brasileira S/A, de autoria do saudoso poeta, teatrólogo, crítico, jornalista e consagrado escritor Guilherme Figueiredo intitulado “As Excelências Ou Como Entrar para a Academia”, em que ele conta às façanhas que teve para postular uma vaga na vetusta Academia Brasileira de Letras, quando peregrinou pelas residências de cada um dos imortais para conseguir votos necessários para figurar na Casa de Machado de Assis.
Em cada entrevista uma pequena história repleta de desculpas esfarrapadas porque a intenção da maioria dos acadêmico era em favor de outro candidato, médico de renome, que mal sabia escrever a receita que dava aos pacientes. E este foi ungido a imortalidade. Dito esculápio atendida os imortais e seus familiares sem cobrar honorários.
E Figueiredo, como o grande Monteiro Lobato, nunca integraram a nominada Academia. E pensar que Getúlio Vargas, Juscelino e Sarney sem nenhum esforço estão na galeria dos “intelectuais” brasileiros. Vale a pena ler e conhecer o ranço e as armadilhas que se sujeitam os postulantes, ficando seus acervos de escritores relegados a um segundo plano. Vale mais a conveniência e notoriedade do candidato do que qualquer outra coisa. Escrever acrescenta muito pouco.
Lembro quando meu amigo e saudoso colega Ronaldo Botelho dizia, quando das eleições para a escolha da chefia do Ministério Público: “Ética em eleição? Nem na Academia Brasileira de Letras!” Pura verdade, pois senti na própria carne quando fui um dos concorrentes. Pois bem: Guilherme Figueiredo escreveu dentre tantos um livro que mostrou toda a sua veia humorística chamado “Tratado Geral dos Chatos”, que se transformou em uma obra ontológica, pois conseguiu classificar todos os tipos de pessoas insuportáveis (chatas), definindo e explicando as atitudes indesejáveis de cada uma delas.
Leitura sempre atual e imperdível. Porque com a explosão demográfica os chatos pululam. Mas se a memória não me trai, ele só esqueceu-se de referir no seu compêndio a categoria dos “Mosquitinhos pólvora”, aquele inseto diminuto que pica a pele, deixa vermelha e coça irritantemente.
E o pior: você não consegue afastar e nem lhe dar uma chinelada porque é rápido e se desloca facilmente para outros lugares. Ele não tem hora e nem lugar para atacar: todo momento é momento.
O leitor com certeza conhece o Maria Louca não é mesmo? Claro, quem é que não foi picado por ele? É um chato que está em toda a parte, nas piores companhias e nos melhores ambientes, disseminando ódio, provocando e sempre com ar de vestal como se tivesse participado da Última Ceia.
Pois é, ele também não perde o momento para dar suas picadinhas. A última? Nessa tragédia de Brumadinho - MG, quando de maneira infame própria do chato dos chatos ele declarou que a vinda dos israelitas para o Brasil, não foi para prestar socorro às vítimas, mas, sim, para poder com todo arsenal bélico que trouxeram na aeronave militar invadir a Venezuela e depor o Maduro. Tem estultice maior do que essa? A impertinência do velhote não tem fim, está no gene, imutável, que só serve para iludir os incautos e apaniguados.
Pena que o notável Guilherme Figueiredo não elegeu no seu livro o “Rei dos Chatos”, com certeza ele nunca ficou mais do que o necessário em nossa Curitiba, por isso não teve inspiração para tal. Mas nós aqui da terrinha sabemos que o Rei dos Chatos existe e que além de tudo é imortal...
“Chato é o mosquitinho pólvora que pica, deixa a pele vermelha, faz calombo, coça e a gente não consegue se desvencilhar. Ele só para depois que encheu o saco da vítima. Tem tantos por aí, mas nenhum igual ao Maria Louca, espécie rara
que está em todos os lugares e sacos vazios!”
Edson Vidal Pinto