Muita opinião gera confusão
No campo profissional vale o dito popular: “cada macaco no seu galho”. Sim é verdade. É inadmissível que um indivíduo domine o conhecimento de uma ciência ou que tenha o dom natural de realizar com perfeição tarefas ou serviços e que terceiros, sem conhecimento algum ou aptidão, se intrometam indevidamente com palpites estapafúrdios. Acho que de todas as profissões as únicas exceções ficam reservadas:
a) aos técnicos de futebol; e
b) aos médicos.
No primeiro caso porque em um país como o nosso com mais de duzentos milhões de habitantes - tirando os menores de sete anos e os próprios jogadores - todos os demais são metidos a treinadores de futebol, apesar da esmagadora maioria nunca ter disputado uma única “pelada” de final de semana. Mesmo assim acham que podem escalar o seu time do coração, contratar jogadores e usar de táticas inimaginada para ganhar qualquer campeonato. E no segundo caso é a profissão de médico.
Todo ser humano quando nasce parece que tem um diploma da Escola de Medicina para colocar na parede do berçário, pois acha que pode curar e fazer cirurgia como nos filmes de Hollywood. Por isso não há quem não se automedique, não sugira diagnóstico de doenças e não receite remédios para a família, amigos e comadres.
Tudo sem a necessidade de exames laboratoriais, raio-x, tomografia, cintilografia e uso do vulgar termômetro. O leigo nem olha, basta ouvir o que “paciente” está sentindo e pronto: diagnóstico gratuito e sem “nhénhénhé”. E não adianta o esculápio dizer que é especialista apenas de uma fração do corpo humano. É mentira e vou provar. Antes vou contar as peripécias de um acidente.
Minha mulher caiu sobre um bueiro na Praia de Búzios, desmaiou e depois foi conduzida pelo Siate ao hospital da cidade. Foi “tirado” uma chapa de raio-x, do tórax. O único médico de plantão alegou que não poderia diagnosticar porque era pediatra e não entendia de ossos. Na clínica do navio onde estávamos embarcados os dois médicos que atenderam olharam por todos os lados a chapa do raio-x, como se estivessem querendo achar uma mina de ouro, e depois se esquivaram em dizer o que tinha acontecido sob a alegação de que eram neurologistas clínicos.
Chegando em São Paulo, no Hospital São Camilo, o médico atendente olhou o raio-x e disse que não poderia ser útil porque, embora fosse ortopedista, era especialista tão somente dos ossos situados da cintura para baixo. Foi graças ao Dr. João Sallum, da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, que num simples passar de olhos na imagem do mesmo raio-x, prontamente diagnosticou fraturas do cotovelo e costelas. Só que agora com a pandemia do coronavírus os médicos de um modo geral, independentemente de suas especialidades, resolveram dar uma de infectologista e não se furtaram em dar palpites a torto e a direito.
Conclusão: as orientações díspares resultaram em uma Torre de Babel onde todas as opiniões, inclusive dos leigos, geraram enorme confusão. E o povo em total pânico ficou sem saber o que fazer. Só os pastores milagreiros não puderam fazer suas pregações e ensinar o caminho das pedras, para acabar de vez com a pandemia, porque seus templos foram fechados ditatorialmente. Ok, quanto tempo perdido. Mas é preciso colocar ordem nesse mar de opiniões desencontradas para que nas futuras epidemias haja uma única direção: ou vamos todos para o isolamento total ou parcial.
Nesta última hipótese os autores da ordem devem pagar os salários dos encarcerados sociais. Claro que mesmo assim, vão surgir opiniões dissidentes. Nesse caso para dirimir o impasse seria ótimo um simpósio chancelado pela OMS com as participações de médicos, palpiteiros, pastores, padres, políticos, matemáticos, benzedeiras, economistas, tarólogos, flamenguistas, arquitetos, pai de santo e juristas a fim de decidirem qual a única regra de prevenção aplicável ao vírus do momento. Havendo discordâncias de opiniões será convocado um Juiz Togado do Tribunal Penal Internacional para, em cinco dias, decidir o mérito da discordância.
Para quê uma ONG qualquer não alegue cerceamento de opinião caberá recurso à Assembleia Geral da ONU para decisão final. Caso então o vírus não tenha dizimado a população do mundo, será editada a resolução orientando o povo como proceder para evitar o pior. Enfim: ou a turma envolvida no imbróglio desse atual vírus chinês resolve uniformizar a recomendação de prevenção deste e dos próximos vírus; ou caberá a OMS convocar os interessados para o referido simpósio; ou no último caso ouvir a derradeira e sempre esperada opinião da Dilma. Pois do jeito que está, sinceramente, não dá mais para aguentar...
“Um vírus de nada (mas mortal) dividiu a classe médica, destronou os cientistas, os palpiteiros, os políticos e os mal amados com opiniões díspares sobre a melhor maneira de prevenir para evitar a sua expansão. É preciso ordem no pedaço. E a solução proposta está na sinecura e misteriosa OMS.”
Edson Vidal Pinto
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