Música da Pré-História
Guaratuba com chuva permite isolamento social sem trauma, porque não resta absolutamente nada para fazer. Ah, se não fosse o meu radinho de pilha que me acompanha por todos os lugares aonde vou, com certeza neste momento só estaria ouvindo os pingos da chuva e o gorjeio dos pássaros urbanos. Ledo engano. Meu rádio quando ligo parece uma caixa estranha com ruídos inaudíveis e vozes que vem do além. Pudera pois aqui só existe uma única emissora a “Rádio Litorânea” que transmite com exclusividade por ser a única que “pega” no dial do meu aparelho.
E as músicas? Uma pior do que a outra porque é uma seleção de caipiragem que faz doer nos ouvidos. Aliás o bom gosto musical não faz parte da bagagem da nova geração que adora ouvir gritos, rimas sem logica, frases sem nexo e cultuam ídolos sem nenhuma musicalidade. E não estou nem me referindo ao rap, axé e outros ritmos de rua, mas sim da surrada música sertaneja ou sertaneja universitária que já deu o que tinha que dar.
Fico imaginando se ainda existisse a TV Tupi e o seu “Programa Flávio Cavalcanti” quando este apresentava o quadro “Qual é a Música”, momento em que colocava um disco gravado com a música recém editada pelas gravadoras e após ouvir o arranjo musical e o cantor, fazia a devida crítica e quando não gostava acintosamente tirava o disco da vitrola e o quebrava em mil pedaços.
Com certeza nenhuma das músicas que hoje são tocadas no rádio ele não deixaria de jogar os discos no lixo. Pois são músicas do tempo das cavernas para serem ouvidas por um bando de brucutus. Claro que tudo é culpa do Governo Federal que através do Ministério das Telecomunicações privilegiou ao longo dos últimos anos políticos e religiosos com concessões públicas de rádios, sem exigir minimamente uma programação culturalmente melhor e músicas mais selecionadas. O apresentador Ratinho fartou-se em adquirir concessões de emissoras de rádio que refletem na programação o mal gosto musical do patrão. E aqui em Guaratuba a rádio é do deputado Justus que compartilha infelizmente do mesmo gosto do seu concorrente.
É claro que a rádio educa para o bem e para o mal, porque não falta os que gostem das músicas tocadas e cantadas por gente sem futuro. Pois seus sucessos são efêmeros. E tem ainda o pior: as programações de pastores evangélicos e padres católicos. E todos eles não estão apenas no rádio como também na televisão. Os primeiros fazendo milagres ao atacado, sem um mínimo pudor, com águas sagradas, bençãos mil, caminhadas santas por morros e rios, curando males até de pessoas sadias. E os padres com apresentações de Missas, palestras bíblicas e musicais onde alguns clérigos com pinta de galã, boa conversa e ótima voz atuam como pop star de Jesus Cristo. Credo Cruz que jacuzisse para nenhum Luiz Ignácio colocar defeito.
Mas o que importa mesmo é cantar, aparecer na TV e vender o seu peixe há qualquer custo. Disto tudo uma verdade: nem o rádio vai morrer porque tem gosto para tudo, pois o luxo para alguns é lixo e o lixo para outros é um luxo...
“Ouvir rádio e assistir há programação da TV aberta é castigo pior do que cumprir pena em regime fechado. Salvo que o condenado seja surdo ou goste de sofrer”.
Edson Vidal Pinto
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