Não Está Fácil, hein?
Não sei se estou com amnésia ou não, só sei dizer que perdi a noção do tempo para saber quanto dura uma quarentena, em razão da Covid-19. São quarenta dias, quarenta luas, quarenta anos-luz ou quarenta de brincadeirinha? No início do ano disseram que a reclusão social era para prevenir contra o vírus e duraria poucos dias, porém logo vieram bilhões de infectologistas que tem no planeta e garantiram que o isolamento deveria perdurar até o final deste ano, e eu ignorante no tema concordei.
Dias atrás um cidadão de tez amorenada que deve ser o dono do Conselho Mundial da Saúde declarou para quem quisesse ouvir que o vírus ainda vai perdurar entre nós por alguns anos. Anos?!! Pô, daí cai na realidade. Acabei de ler de um noticiário qualquer que o representante de um dos laboratórios mais conceituados do mundo, declarou que para “inventar” uma vacina contra qualquer vírus o tempo mínimo de pesquisa e constatação é de no mínimo três anos. E citou que a vacina contra o Ebola só foi descoberta depois de quatro anos.
Meu Deus, o que dizer? Estou dentro do meu apartamento olhando pela janela a vida passar lá fora e eu preso dentro de casa. Num arroubo de independência ou morte mandei o Greca e o Ratinho para aquele lugar reservado às pessoas que não gostamos, daí coloquei minha máscara no rosto para não ser conhecido, peguei minha mulher a tiracolo e saímos de automóvel. Eu me senti um Lula trafegando pelas ruas como um fugitivo da Secretária de Saúde do município, pois tenho medo da mulher que é a titular da Pasta porque ela como poucos sabe mandar e desmandar.
Tanto que ela abre e fecha o comércio, recomenda e emenda tudo que já tinha falado como se fosse a dona do vírus, já que o Prefeito não quer se manifestar sobre a pandemia com medo de perder votos. Enquanto dirigia eu explicava para minha mulher que nós precisávamos sair de casa com urgência porque não daria para aguentar inertes quatro anos de quarentena. Daí a pergunta: ir para o aonde? Não sei por que uma força estranha me fazia dirigir em direção ao aeroporto Afonso Pena e assim chegamos na antiga avenida que tinha torres.
Diminui a marcha do carro e ficamos comentando o crescimento daquela região, restaurantes, condomínios, supermercados e revendedoras de veículo. E de repente eu estava passando na porta do aeroporto, na pista de desembarque, vi a área de estacionamento vazia, nenhum passageiro chegando e nenhum avião no ar. Foi quando tocou o telefone celular, era meu filho mais velho:
- Oi, pai. Tudo bem? Está em casa?
- Não meu filho, eu e tua mãe estamos no aeroporto..,
- Aeroporto?!! Estão fazendo o quê, aí? Vocês estão bem?
- Calma, só viemos sentir o cheirinho do aeroporto para distrair.
- ?
- Estamos de máscara, filho.
Estamos tomando um pouco de sol e logo retornaremos para casa. -foi minha mulher que falou.
- Ah, tudo bem, então. Cuidem-se! - recomendou o nosso primogênito.
Desligado o celular, olhei para minha mulher e ela deu uma risadinha como quem quer dizer “sinal dos tempos”. Eu também ri. Claro que no fundo no fundo nem eu e nem ela sabíamos dizer ao certo o que nós dois estávamos fazendo no aeroporto, pois não íamos viajar e nem esperar ninguém. Lembrei do tempo de criança quando meu pai me levava até o aeroporto para ver os aviões e as pessoas embarcarem.
Aliás era um passeio que faziam as famílias de ontem. E pensar que hoje não tinha um único e mísero avião para ver, nem passageiros e nem os táxistas brigando para apanhar os que desembarcavam. E o pior: que a quarentena da chamada reclusão social ainda pode perdurar alguns anos. E avião no ar só mesmo nos filmes da Netflix ...
“Infectologistas do mundo uni-vos! Chega de palpites e conversa fiada: quanto tempo dura mesmo a “quarentena” do Covid? Precisamos de uma resposta única e certeira. Pensem antes de responder, briguem, discutam, se esbofeteiem, mas sejam precisos. Ou pelo menos digam quantos aeroportos tem próximo de Curitiba para a gente visitar até chegar à vacina!”
Edson Vidal Pinto
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