Não Existe Mais...
Hoje, 30 de agosto de 2.017, quarta feira.
Lembro-me do tempo dos meus avós e de meus pais quando nas reuniões de família e no meio de tanta prosa, eles reservavam espaço para contar mil e uma histórias de fantasmas e assombrações. E o interessante de tudo eram os detalhes do ocorrido, os lugares, o tempo e tudo contribuíam para arregalar os olhos dos mais jovens que ficavam arrepiados de medo. Meu avô materno aproveitava destas ocasiões para monopolizar as atenções, principalmente dos netos, e narrava "causos" ocorridos na sua querida Lapa.
Ele contava que certa noite quando retornava do distrito de Mariental para a cidade, montado em seu cavalo, onde fora visitar um amigo que estava muito doente teve que usar um capote de tropeiro que pertencia a este, porque foi surpreendido por intermitente chuva que chegou de surpresa. E no caminho escuro, entre raios e trovões, sentiu que o vento parecia soprar de maneira estranha o grosso capote que lhe batia na perna, como a mão de uma pessoa invisível. Sentiu um mau pressentimento e como estava sozinho num lugar ermo passou a trotear seu cavalo. Ao chegar a casa, deu graças a Deus.
No dia seguinte ficou sabendo que seu amigo tinha falecido naquela noite chuvosa. Ele então dizia que o contato do capote na sua perna devia ser um "aviso" de despedida de seu amigo. E quando terminava a reunião e chegava a hora de voltar para casa às crianças saiam de mãos dadas com o pai ou com a mãe, olhando para todos os lados e pensando se não iria encontrar uma "alma penada". O pior era dormir sozinho no quarto, o cobertor chegava até o nariz e quase impedia a respiração.
Qualquer barulho diferente era motivo para manter os olhos bem fechados. Quando nascia um novo dia e passava o tempo tudo caia no esquecimento e a criançada sempre estava disposta há ouvir novas histórias contadas pelos adultos da família. Interessante é que ninguém ficou traumatizado e nem precisou fazer análise ou procurar um psicólogo para espantar seus medos. E os meninos? Quem daquela época nunca brincou de mocinho e bandido, com cartucheira de revólver de brinquedo pendurada na cinta, montado num garboso cavalo de cabo de vassoura? Haja imaginação! Era nos terrenos baldios e no meio de um arremedo matagal que se desenrolavam as batalhas com os índios, que não existiam.
Quantos tiros saiam dos revólveres de plástico, das metralhadoras de sons estridentes, das flechas com borracha nas pontas e que eram arremessadas por arcos que nunca tinham impulsão suficiente para que elas atingissem o alvo desejado. E ninguém se tornou bandido e nem mau caráter por causa destas brincadeiras. Hoje, nas lojas especializadas tem quase de tudo, menos armas de brinquedo! Sua fabricação está proibida para não influenciar a formação moral e psicológica das crianças. Que besteira! A violência está às escâncaras no dia a dia e principalmente nos programas de televisão.
Enfim, não se contam mais histórias de assombração e nem os meninos sabem o que é brincar com revólver de espoleta porque os tempos são outros, não se usa mais da imaginação e da fantasia que dava um colorido especial nos momentos vividos. A morte foi banalizada pelos "criativos" brinquedos e jogos eletrônicos, que não obriga ninguém sair de uma confortável poltrona para montar num fogoso e imaginário "cavalo de pau". Nem fantasmas
assustam mais...
“História de fantasma arrepiava até a alma! Um revólver de plástico dava mil tiros sem precisar carregar! Ninguém teve traumas ou se tornou violento. Tempo estranho àqueles, não?”.