Nem Jó aguenta!
Hoje, 05 de junho de 2017, segunda feira.
Descobri que pior do que ficar na sala de espera de consultório médico é assistir uma sessão de julgamento do Supremo Tribunal Federal. Na última semana o novel ministro Alexandre Moraes usou e abusou da paciência de todos os presentes e telespectadores da TV Justiça quando usou da palavra por uma hora e meia para pedir "vista" do processo, que disciplinava o uso do denominado "foro especial".
O sujeito falou, sofismou, discutiu o tema consigo mesmo, deu a entender que acompanhava o Relator, mas voltou atrás, historiou o instituto, exemplificou, colocou em dúvida, defendeu, achou uma excrescência, refletiu, teceu críticas e finalmente pediu "vista" para melhor estudar e meditar sobre o tema.
Sinceramente foi uma peroração descabida para o atual momento do século XXI! Mal comparando seria o mesmo que alguém contar a história do Capitão Rodrigo e de Ana Terra de "O Tempo e o Vento" de Érico Veríssimo que é uma trilogia, e deixar a leitura do último livro para ser mencionado em outra oportunidade. Ou contar em minuciosos detalhes uma aventura de Sherlock Holmes e deixar para dizer o nome do criminoso para outra ocasião. Ou então imaginar um teatro lotado para ouvir uma orquestra famosa que antes do espetáculo fica algum tempo afinando os instrumentos e de repente o maestro sobe no palco para anunciar que se esqueceu de trazer sua "batuta" preferida, e por tal motivo transferia a sessão para outra data.
Pois é, guardadas as devidas comparações o referido ministro fez quase a mesma coisa, pois encheu linguiça e não saciou a fome de ninguém! Haja paciência, não é mesmo? Parece que tem gente que não tem desconfiômetro, pois usa e abusa da paciência alheia sem qualquer cerimônia. E pensar que existem milhares de processos "dormindo" naquela Corte Superior aguardando a devida prestação jurisdicional. Sem falar da sociedade brasileira que pacientemente espera o derradeiro julgamento de recurso de criminosos já condenados, para só então cumprir pena em penitenciária do país.
Enquanto isto os jurisdicionados assistem e ouvem conversa "fiada" num festival de mesmice, ou tomam conhecimento pela imprensa que ministros viajam a torto e a direito para dar aulas ou proferir conferência, sem nenhuma preocupação com o trabalho atrasado. E quando têm que trabalhar usa do tempo para dizer "abobrinhas" como fez com maestria o Alexandre no julgamento em comento.
Vale referir que o Ministro Relator quando proferiu seu voto esgotou suficientemente o tema, portanto, o "pedido de vista" para melhor estudo mereceria o tempo suficiente de dizer em plenário: "Em que pese às ponderações feitas pelo ilustre Relator, peço vista dos autos na forma Regimental". Nada mais. E para chegar a esta mesma conclusão o Ministro levou uma hora e meia! Haja paciência!
Parece que é mais fácil complicar do que tornar as coisas mais simples. Ora, a modernidade não pode ser traduzida apenas com o avanço das máquinas, da tecnologia, pois o homem deve também ter a percepção e evoluir para buscar mais racionalidade e celeridade nas suas soluções do dia a dia, a fim de se tornar menos inoportuno e egocêntrico. Tempo não é só dinheiro, como, principalmente, lazer.
Este só é possível quando o ser humano cumpriu suas tarefas no seu devido tempo e conseguiu reservar parte deste tempo para sua recreação. Quem usa do microfone, da palavra, da oratória e da comunicação sem controlar o devido tempo torna-se um chato, um inoportuno e um demagogo. Ninguém gosta e nem Jó aguenta!