Nhonho, O Filho da Política!
Conheça o homem dando o chicote. Dito popular certeiro para identificar o indivíduo que se deixa seduzir pelo poder que possa ter nas mãos. É comum isto acontecer na vida pública quando da noite para o dia alguém deixa de ser povo para ser autoridade”, passando a ter privilégios e ignorando seus “inferiores”.
A embriaguês do Poder é uma desgraça porque torna o detentor do cargo para o qual foi escolhido e nomeado um ser intragável em razão da soberba. Aliás, a bem da verdade nem precisa ocupar nenhum cargo público para constatar como a pessoa “exige” ser tratada. Exemplo clássico? É no telefone:
- Alô?
- Aqui é o doutor Augusto, quem está na escuta?
- Doutor, aqui é a enfermeira do hospital ...
E dali em diante é doutor para cá, doutor para lá, tudo com respeitoso diálogo. Pois nenhum doutor gosta de intimidades. A pior situação no cotidiano é quando esse mesmo sujeito chega no prédio onde mora e o novo porteiro, que só o conhece de vista, educadamente o cumprimenta:
- Bom dia “seu” Augusto!
Pronto. Aquela frase fica entalada na garganta do doutor que fica prometendo para si mesmo que ainda vai se vingar de seu desafeto. Sim porque o porteiro se tornou dali em diante seu inimigo mortal. E na Administração Pública não saber ou ignorar a forma de tratamento de uma autoridade, do qual alguém pretenda uma audiência para um pleito qualquer, é receber um “NÃO” bem grande como resposta.
Lembro quando acompanhei minha saudosa e querida amiga Denise Arruda, então minha colega de Toga no Tribunal de Justiça, na sua peregrinação em busca de apoio para sua nomeação ao cargo de Ministra do STJ.
Com data agendada previamente fomos conversar com o Advogado Geral da União uma espécie de cupincha do Presidente.
Estávamos nos dirigindo ao endereço oficial, quando meu telefone celular tocou:
- Edson, não esqueçam de tratar o “homem” de Ministro, por favor não chame de “doutor” que ele vai “cristalizar”! - foi o conselho do amigo Félix Fischer, Ministro do STJ.
E assim foi feito: o “homem” se derreteu e aderiu a pretendida postulação. Errar o tratamento de quem quer que seja é encrenca certa. Quer uma constatação? Experimente chamar um Major de Capitão se você estiver servindo o Exército para ver onde você vai parar. Nos corredores do fórum dizem as más línguas que se você chamar o juiz de deus ele nem vai perceber o equívoco. Que meus colegas me perdoem pela piada, é que eu não quis deixar de aproveitar a oportunidade nesta crônica. Censuras a parte.
Mas neste balaio de tantas autoridades e doutores eu fico me interrogando como será o tratamento dispensado ao Presidente da Câmara dos Deputados o intrépido Rodrigo Maia, vulgo “Nhonho”. Antes de tudo vale lembrar que ele é o todo poderoso da República apesar de ter sido eleito com um pouco mais de setenta e seis mil votos, pois critica quem quer, põe para votação o Projeto que quiser, gosta de ficar brigado com o governo num dia e no outro volta às boas, trafega por todos os cantos do país nos aviões da FAB, dialoga com o Lula, afronta os militares e acha que é mais do que qualquer outra autoridade no país.
Minha dúvida foi desfeita quando conversei com um amigo meu deputado federal, que não é da turma do “Centrão” e que se considera um espectro da Casa. Ele me disse que foi ao gabinete do Nhonho para fazer um pedido para um amigo e quando foi recebido ficou tão nervoso que não sabia como tratá-lo, quando de repente uma luz lhe iluminou e ele falou:
- Eminência Reverendíssima doutor Rodrigo Maia ...
E acertou na mosca, pois o Nhonho virou os olhinhos para o teto, estremeceu de alegria e concedeu o favor pretendido. E é assim mesmo: nunca desconsidere uma autoridade ou um doutor quando estiver na frente de um, chame do tratamento que melhor lhe vier na cabeça Magnífico, Amantíssimo, Santíssimo Papa, Dignidade, Marechal, Atleta do Século, Padrinho ou até mesmo de Ademir da Guia. Mas nunca chame de “seu” fulano, espere até ele se aposentar ...
“Que título dar há uma autoridade sem cometer um crime mortal. Eis uma questão delicada. Se você quiser um benefício qualquer abuse na adjetivação. Se você quiser pleitear o benefício para um terceiro que você não vai com a cara, basta usar o “seu” antes do nome da autoridade.”
Edson Vidal Pinto
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