No Fundo do Poço.
Literalmente quando meu celular surtou porque estava saturado e eu não conseguia digitar uma única palavra para terminar minha crônica pensou que tinha chegado
no fundo do poço.
Tentei varias vezes entrar no Facebook e não consegui. Confesso que não sou afeito a tecnologia existente no meu pequeno celular que dedilho (com um só dedo) diariamente para elaborar meus escritos; e fiquei estático quando li na tela do aparelho que não havia espaço livre para receber e nem digitar uma única palavra:
- Socorro! - era o que pensei no momento, mas daí me deu conta que estava sozinho em casa e que não adiantava gritar. Telefonei para meu filho mais novo que estava trabalhando e ele me deu as coordenadas para fazer a “limpeza” necessária.
Eu teria que apagar as fotos e as mensagens que estavam gravadas para liberar os espaços a fim de permitir a regularidade do Facebook. Tateei cuidadosamente para executar as instruções recebidas e comecei com o acervo de fotos que estavam armazenados. Fiquei pasmo: tinha milhares de fotos misturados com figuras, caricaturas, de mensagens de bom dia e boa noite e uma parafernália de entulhos.
E eu precisava de espaço para terminar a crônica que começara e estava nos finalmente. Com dose de paciência comecei eliminando tudo que era dispensável -, levei horas como gari tecnológico para mandar o lixo para algum lugar que não sei até agora.
E quando consegui ultrapassar a metade do que continha no arquivo, passei a eliminar as conversas recebidas de amigos que me são caros. Quando voltei para o Facebook constatei que a crônica que eu estava redigindo simplesmente sumiu, evaporou e no seu lugar não ficou vestígio.
Inconformado telefonou novamente para meu filho pensando que seria possível resgatar das nuvens - que tanto tinha ouvido dizer que seria o lugar em que as palavras e fotos dormiam temporariamente em berço esplendido até serem recapturados - quando ele me disse que o trabalho estava perdido.
Fiquei atônito. Claro que eu poderia refazer referida crônica, mas perdi o embalo com a frustração depois de tanto trabalho para liberar o espaço em comento. Larguei o telefone, pois estava cansado e meus olhos irritados.
E para piorar recebi um telefonema do Tribunal de Justiça me informando que o Ministério Público do Tribunal de Contas havia aceitado uma reclamação de um candidato (não inscrito) apontando irregularidade de um concurso que eu presido.
O certame iniciou em gestões anteriores ao do atual Presidente do Tribunal e o reclamante apontou que a “irregularidade” consistia no fato de que, com o longo decurso de tempo, ele não tinha idade para se inscrever e que agora preenche os requisitos do Edital e, portanto a continuidade do certame lhe subtraiu o direito de concorrer. Não vou entrar em pormenores, mas apenas esclareço que aludido Concurso é para funções administrativas e estão inscritos mais de cento e cinquenta mil candidatos.
Parece ser o maior concurso público da história do Paraná. E como presidente da Comissão terá que responder perante o Órgão Ministerial de Contas. Ônus próprio do encargo assumido. Mas minha preocupação iminente era escrever minha crônica diária.
Procurei dar tempo ao tempo como eu fazia quando tinha que julgar recursos complexos e difíceis. Fui assistir um pouco de televisão. De repente peguei o telefone e comecei a digitar esta crônica, completamente diferente da primeira, porque achei interessante confessar sobre minhas dificuldades no manejo do meu celular e da tecnologia colocada modernamente a serviço de todos nós.
Sou neófito e não gosto de computador cuja tela azul quando aparece me hipnotiza em segundos e me dá vontade de dormir. Dou graças a Deus por ter me aposentado antes da digitalização dos processos, porque com certeza eu poderia ter sido o primeiro sonâmbulo em atividade no serviço público...
“É fácil dizer que a tecnologia veio para servir a todos. Eu por exemplo me sinto um troglodita perante os aparelhos tecnológicos, pois tenho muitos deles mas confesso que não domino integralmente todos os serviços ofertados. Entre digitar um computador e escrever manualmente com uma bic, prefiro esta última porque me ajuda a raciocinar rapidamente, enquanto que a claridade do computador me dá sono e malemolência!”
Edson Vidal Pinto