No Tempo da Mimosa
Ouvi dias atrás na rádio BandNews Curitiba, o âncora do programa matinal, comentar com indignação o quanto subiu o preço da carne, do abacate e da laranja, com alegação de que a inflação e a falta de alguns produtos estão encarecendo a vida dos paranaenses. É claro que a inflação por si só já é o fator principal da carestia, reflexo de um desgoverno federal inoperante, e da alta do dólar, moeda que está atrelada na economia dos países emergentes, que influem de forma direta no custo de vida. Contudo se a comunicação não estivesse tão avançada a ponto de lembrar às populações tudo que acontece no palco da modernidade, com certeza se as notícias preocupantes passassem desapercebidas como acontecia anos atrás,
ninguém seria torturado com a lembrança em forma de marteladas na cabeça que os preços dos alimentos estão pela hora da morte. Lembro, quando era criança, que o chuchu crescia pendurado nas cercas de madeiras, que dividiam os terrenos das propriedades, e a fartura do produto era tanta que na área rural os criadores jogavam os mesmo para os porcos comerem. Hoje em dia, o chuchu é vendido nos supermercados, dentro de pratos de papelão envoltos em plástico, como “artigos” de luxo e com o preço oscilando entre o mais ou menos caro, dependendo do clima e da quantidade colhida na safra. A propósito, quando morei com minha família em Jaguapitã, cidade próxima de Rolândia, um certo morador cultivava no quintal de sua casa algumas árvores de jabuticaba que ficavam carregadas do fruto, ele então cobrava por pessoa um valor que não lembro, para quem quisesse colher e comer a jabuticaba no próprio local, atraindo pessoas que se fartavam de comer as “bolinhas pretas”. Claro que o dono engordava a sua economia. Não há dúvida que a jaboticaba é uma fruta fácil de achar, porém o seu sabor não é mais o mesmo. Nem o figo, muito menos o morango, o pêssego e a laranja. São frutas caras que pesam no orçamento de qualquer pai de família, mas não têm o gosto saboroso de antigamente. E quem comeu uma mimosa na plataforma da estação de trem de Morretes, com certeza, sabe muito bem o que estou escrevendo. A estação de Morretes era entroncamento ferroviário do trem que saia de Curitiba para Paranaguá, com um desvio para a composição que se dirigia à Antonina. Portanto era parada obrigatória do trem para o desengate de vagões, oportunidade em que os passageiros desciam na plataforma da estação para comprar os produtos da “terra”, como mimosa, laranja, carambola, jabuticaba, rapadura, melado, sendo que as frutas eram acondicionadas em cestos artesanais, feitos de bambu, com uma alça que o comprador segurava pela mão. Todas as frutas eram saborosas e baratas. As mimosas eram as preferidas. Para tirar a casca era preciso furar com a unha a parte côncava da fruta, para depois então descascar a mesma quando subia o seu cheiro característico que exalava pelo ambulante, bem como, uma nuvem fina de pequenas gotículas que se chegassem nos olhos ardia como pimenta, para daí, então, saborear gomo por gomo o sumo que era próprio néctar dos deuses. O cheiro impregnado na unha levava tempo para sair. No litoral não existem mais plantações de mimosas, e as que são vendidas por aqui nem de longe guardam igual qualidade daquelas que eram encontradas “serra abaixo”. Nem o trem vai mais até o Porto de Paranaguá. É difícil comprar frutas de qualidade e pelo preço que são vendidas elas, muitas vezes, não valem o valor cobrado. A melancia serve de exemplo. Uma vez aberta ao meio aparece a cor vermelha exuberante da fruta, porém, na maioria das vezes, não tem o gosto doce tão esperado. É um engodo. E como não dá para devolver ao vendedor, a frustração fica enredada no prejuízo. Com tanta tecnologia existente é preciso voltar os olhos para a produção rural das frutas, verduras e legumes para que o gosto e qualidade destes produtos valham o preço que são cobrados, pois os consumidores estão fartos de comprar gato por lebre…
“Os consumidores brasileiros pagam caro os produtos alimentícios de um modo geral, que são de qualidades duvidosas, ficando sempre com o prejuízo. Principalmente as frutas, muitas de aparência exuberante, e conteúdos insossos. Ah, que saudades do cheiro e do sabor das mimosas do litoral paraense, que não existem mais!”