Nós, os Juízes!
Se você pensa que ser Juiz é viver no paraíso, sem frustrações e nem temores posso afirmar que não é verdade. Somos pessoas comuns, temos defeitos, fraquezas, insônia, nos incomodamos com tudo que acontece no cotidiano, somos enganados nos negócios porque acreditamos nas pessoas e agimos com boa fé, como qualquer outro honramos nossos compromissos, torcemos pelo nosso time de futebol, temos família para sustentar e enfrentamos as mesmas dificuldades para educar nossos filhos. Muitos de nós, eu poderia dizer a grande maioria, vem de famílias simples, lutamos muito para alcançar nosso objetivo e realizar o nosso sonho de, em nome do Estado Democrático de Direito, exercer a difícil e nobre missão de julgar.
Também somos filhos, pais , sogros, avôs, sobrinhos, tios, primos e amigos. Não temos o dom da perfeição e nem o privilégio de não errar. A falibilidade é humana. A Juíza mulher é mãe, dona de casa, provedora, zelosa , vaidosa, sensível e operosa. Somos diferentes no gênero e iguais no ideal de servir a Justiça. Como Magistrados não pertencemos a nenhuma raça superior , não somos deuses e muito menos vassalos. Nossas decisões nem sempre são satisfatórias , erramos inconscientemente e nossos atos processuais são passíveis de correções. A esmagadora maioria dentre nós nunca quis a garantia de um emprego, todos queremos um salário condizente as nossas necessidades e independência funcional. Não somos e nunca fomos o que pejorativamente chamam de "marajá" pois as cifras que anunciam publicamente como ganho real não condiz com a realidade. Pagamos imposto de Renda, Previdência, Plano de Saúde Privado para todos os dependentes o que reduz quase pela metade o valor do subsídio.
Nosso salário equivale ao ganho médio de qualquer executivo de uma empresa de porte médio. E quando aposentados não temos nenhum acréscimo dos penduricalhos pagos ao pessoal em atividade. A constitucional isonomia de salário não é respeitada. A atividade pública do Juiz é transparente pois nossos atos dentro ou fora dos processos são sempre vigiados e comentados. Temos leis de regência própria por causa da relevância de nossos cargos no contexto do Estado , e não por corporativismo . Não somos políticos partidários e a nossa ideologia é a própria Lei. A única garantia que é só nossa é a liberdade de julgar de acordo com a nossa consciência, contra tudo e contra todos. Sem medo e nem constrangimento. A consciência sempre foi o nosso justo e único censor!
Nesta madrugada, contudo, conspiradores da pior espécie tramam em nos punir por crimes de responsabilidades na tentativa de impedir "abusos" na atividade judicante, tudo objetivando sepultar inquéritos e ações em trâmite contra políticos corruptos. Manobra tecida no palco mal cheiroso da Câmara dos Deputados. Com raras exceções, dentre estes. A perda da liberdade de atuação profissional do Juiz é afronta ao próprio regime democrático, pois um Juiz temeroso em exercer com ampla garantia o império da lei é um marionete que age de acordo com a conveniência de seus algozes. Todo o mau intencionado se servirá para pressionar e desestimular o arrojo e o ímpeto do justo , para se beneficiar e tirar proveito . Manietar as ações do Juiz é um desserviço prestado à sociedade e ao país. Só nos países totalitários e corruptos os Juízes se curvam a vontade do rei.
É o que pretende impor o Congresso Nacional aos Juízes brasileiros , um golpe sem precedente na história do Brasil e uma página negra para a democracia, tudo para os legisladores comprometidos buscarem a única saída para salvarem a própria pele !
Artimanha de pura vingança àqueles que estão cumprindo o dever funcional, nada mais ! Meu Deus, para onde esta gente está levando o Brasil ? Até quando o estorvo da impunidade será marca registrada ? Caixa 2 é crime, sim ! Censurar a liberdade de julgar, também o é ! Vamos acordar povo brasileiro trabalhador e honrado, antes que seja tarde demais !