Nosso vírus é pior
Depois de um longo tempo de pesquisa sigilosa realizada a sete chaves por infectologistas do Instituto Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, e levando em conta a iminente propagação epidêmica de certo vírus detectado apenas no Brasil, o Ministro de Estado da Saúde declarou hoje cedo, em cadeia nacional de rádio e televisão o seguinte:
- Brasileiros, muito bom dia! Não quero assustar e nem causar pânico, mas infelizmente tenho o dever de informar, por dever de ofício, que um vírus devastador pode afetar a vida de todos nós que trabalhamos, primamos pela ordem e obediência as nossas leis (pausa e suspiro). E tudo poderá eclodir a partir da próxima segunda-feira em Brasília, quando o STF voltará a funcionar...
E o ministro nem conseguiu terminar seu pronunciamento porque uma balbúrdia ocorreu dentro do estúdio de televisão, pois os funcionários em pânico deixaram o recinto correndo e nas ruas um pandemônio virou de ponta cabeça a normalidade do dia. A maioria das pessoas corria em direção às agências de viagens para comprar passagens para os países mais distantes. E a China era o destino preferido!
Pudera, o vírus anunciado é bem pior do que qualquer outro, não importando de onde tenha vindo. Os médicos oportunistas logo foram chamados para dar entrevistas:
- E quais os sintomas principais desse “nosso” vírus, doutor?
- Dor de cabeça, raiva, enxaqueca, inconformismo, descrença e vontade de mudar residência para o Nepal - respondeu o inabalável e sábio facultativo.
- E pode ser letal?
- Dependendo da posição de seus votos nos julgamentos pode induzir
o povo para um suicídio coletivo.
- Pô, então é perigoso, mesmo?
- Perigosíssimo! - concluiu o
entrevistado.
Eu assisti o pronunciamento e a entrevista do médico e logo fiquei absorto nos meus próprios pensamentos. Quem diria, hein, que nossa Suprema Corte pudesse gerar tantos males para o nosso país, a ponto de afetar a saúde corporal e psíquica do povo.
Mas com o Gilmar e outros engomados e engravatados que decidem de acordo com a cara do réu, só poderia mesmo enseja um vírus com tamanho potencial de nocividade. Pena que não foi perguntado ao médico se a TV Justiça poderia servir de órgão transmissor desse mal, e nem se para ir ou voltar de Brasília o viajante teria que cobrir a boca e o nariz com uma focinheira de tecido.
Aliás, pensando bem, todos os habitantes de Brasília deveriam ficar de quarentena pelos menos uns noventa dias, só assim o governo economizaria milhões de reais em passagens de aviões e diárias de seus funcionários e dos insaciáveis magistrados das cortes superiores e congressistas. Neste período de tempo estes últimos poderiam muito bem aproveitar para aprovar as reformas que estão faltando para engrenar de vez o país.
E sem ninguém saindo da Capital seria a primeira vez que um sábado e um domingo teria movimento de automóvel e pessoas nas suas ruas e avenidas. Um momento digno de ser fotografado, porquanto muito raro. E como é sabido todo vírus tem seu ciclo de vida, pode até demorar, mas os ministros daquela casa não são eternos.
E no próximo dia primeiro de novembro o primeiro deles vai deixar em paz a toga e sossegar os jurisdicionados. Quando então entrará em seu lugar outro bem diferente que além de oxigenar o ambiente com sua juventude e preparo, servirá de vacina contra todos os males e afastará o ranço de um corporativismo nefasto. E quem viver, verá...
“Todo o vírus é nocivo, destruidor e nefasto. O STF é um verdadeiro vírus pois seus Julgados, não raras vezes, geram iguais efeitos. E como nada dura para sempre nós, os jurisdicionados, teremos que nos precaver para não perdermos a esperança na Justiça brasileira”.
Edson Vidal Pinto
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