Noticiário Policial
Não tenho certeza mas o Arthur de Souza com o seu programa “Revista Matinal” veiculado diariamente pela Rádio Clube Paranaense - a famosa “PRB-2” - se não foi o primeiro noticioso policial de Curitiba, com certeza foi o mais longevo de todos eles.
Tempo em que as rádios tinham programas variados e não seguiam as cartilhas de padres e pastores, inclusive tinham programas de auditórios e, também, de novelas. No entanto as ocorrências policiais sempre foram chamariz e carro chefe de todas as melhores emissoras primeiro de rádios e depois de TVs, tendo surgido da noite para o dia grandes repórteres e âncoras que cobravam no ar das autoridades públicas providências para a área da seguranças pública.
Cito algumas destas pessoas que granjeavam grande audiência, uns pelos seus trejeitos com que noticiavam as ocorrências e outros porque queriam transmitir destemor e mostrar que não tinham medo nem de bandidos e muito menos das autoridades.
Eram provocadores, censores e da maneira que vendiam o peixe davam a entender que não “levavam desaforo para casa”. Faziam “tipo” e não tinham papas na língua. Elenco os principais que foram : o Algacy Túlio, o Chain, o Cadeia e o Ratinho que juntos valiam por mil; e tinham outros porém de menor arrojo e expressão.
O sensacionalismo estava tão em voga que na época em que fui diretor-geral da Secretaria de Estado da Segurança Pública a mídia policial cobrava do titular da Pasta providências diárias acerca dos crimes cometidos, quer para conclusão de inquéritos, quer para identificar o autor de delito. Inclusive davam cheque-mate no próprio Governador do Estado caso os crimes de repercussão não fossem devidamente solucionados.
Bem diferente de hoje em dia que não existe mais aquela imprensa voraz e ninguém conhece o nome do atual Secretário de Seguranças Pública, do delegado-geral da Polícia Civil ou do Comandante da Policia Militar . Aliás sendo o governador filho de quem é com certeza mesmo que tivessem cem programas policiais nas radios, nenhum apresentador ousaria importunar o Ratinho com medo de perder o emprego e ficar sem chances de ser contratado por outra emissora. O poder do dinheiro do Ratão (pai) assusta; e como assusta.
Conto um episódio que aconteceu no tempo em que eu exercia o cargo de Secretário de Estado da Justiça, no primeiro mandato do saudoso governador Jaime Lerner, e o Ratinho (pai) fazia na TV CNT do Martinez um programa policial diário das 12 até as 13:30 horas, com grande audiência pela maneira agressiva e cheia de encenações de violência com que se apresentava. Inclusive de quando em quando empunhava um cacetete de borracha para agredir um ser imaginário.
E para intimidar dizia em alto e bom som que “ele tinha muito café no bule !” Chavão empregado como força de expressão para mostrar que não tinha medo de ninguém. Eu tinha saído da Secretaria e me dirigia para casa a fim de almoçar quando ouvi no rádio do carro, que também retransmitia som das TVs, o programa do Ratinho onde ele estava entrevistando um delegado de polícia que fazia críticas pesadas contra a Secretaria de Justiça pela omissão em não construir penitenciárias no estado e obrigar as delegacias ter que colocar presos condenados em seus xadrezes. Não era verdade.
O Sistema Penitenciário por culpa de governos passados realmente deu causa a esse estado de coisas, porém eu acabara de receber verbas para construir cinco novas penitenciárias industriais , tinha iniciado a construção em Guarapuava, Cascavel estava terminando e tinha sido recém inaugurada a penitenciária de Londrina. Sem pensar duas vezes pedi ao motorista para me levar até a TV CNT.
Cheguei na emissora, me identifiquei na portaria, e por sorte encontrei meu sobrinho Marcelo Vardânega Ribeiro, que antes do programa policial apresentava no mesmo canal o programa de esportes “Mesa Redonda” e pedi que ele me levasse ao estúdio onde estava o Ratinho.
Cheguei quando o delegado tinha encerrado sua participação e estava no intervalo do programa. Disse ao Ratinho e ele foi pego de surpresa que eu era o Secretário e pedi para ele me entrevistar no ar sobre o quê fora comentado. Ele quis se esquivar prometendo que faria uma gravação comigo para levar ao ar no dia seguinte a pretexto de ter muita matéria para apresentar naquele dia. Fiz pé firme e insisti que queria ser entrevistado e ele acabou cedendo.
Quando o programa retornou ao ar o Ratinho falou:
- Depois da entrevista que acabei de apresentar eu entrei em contato com o Secretário de Justiça e ele gentilmente veio até a emissora para esclarecer as críticas …
Foi quando eu interrompi o apresentador e fui logo dizendo:
- Cumprimento os telespectadores e de início vou esclarecer que não fui convidado para comparecer no programa nem pelo Ratinho e nem por ninguém de sua equipe, compareço aqui por livre e espontânea vontade para esclarecer a verdade e não para acobertar mentiras, pois o entrevistado que me antecedeu não tem o mínimo conhecimento do que está sendo feito há meses para sanear a falta de vagas do Sistema Penitenciário.
O Ratinho ficou mudo. No bloco de vinte minutos falei tudo que tinha de falar e esclareci a opinião pública. Também voltei para o terceiro bloco, agora, sim, a convite do apresentador para discorrer sobre os projetos em andamento da referida Pasta. Sai do estúdio de alma lavada.
E o Ratinho me acompanhou até onde estava estacionado o carro oficial. E nos despedimos numa boa. Ele nunca mais fez nenhuma crítica às ações da Secretaria de Justiça. Este sempre foi o meu jeito de enfrentar as situações adversas por entender que elas devem sempre ser encaradas de frente, pois o homem publico que não deve, não tem o que temer …
“Nem no pior júri da minha vida que eu tive que enfrentar eu desisti.
Aprendi na vida pública nunca fugir dos problemas e sim enfrentá-los. Foi assim que exerci o princípio de autoridade e angariei o respeito por onde passei.”
Édson Vidal Pinto