Num Certo Dia do Passado
Então como Presidente do Tribunal Regional do Paraná e por representatividade do cargo fui à Porto Alegre - RS, participar da posse do novo Presidente do Tribunal Federal da 4a. Região. Solenidade oficial revestida das formalidades de praxe que contou com as presenças das autoridades daquele Estado, magistrados, advogados, parentes e amigos do empossado. Mas em especial se destacava a figura esguia, impecavelmente vestido e distribuindo gentilezas do ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal Nery da Silveira, com certeza beirando os noventa anos de idade, mas irradiando protocolar mesura muita própria dos grandes homens.
Tive a oportunidade de compartilhar com o mesmo um agradável diálogo e pude sentir sua lucidez quando falava sobre a Magistratura brasileira. Na hora de compor a mesa diretora dos trabalhos diversas autoridades foram chamadas, inclusive eu por estar representando um Tribunal da União. Com todos sentados eu por curiosidade olhei para os lados e vi sentado na mesma mesa um cidadão de traje esporte, camisa preta, um cachecol vermelho berrante enrolado no pescoço e vestindo uma jaqueta de couro da cor preta.
Como observador estranhei o traje porque estávamos presentes em uma solenidade oficial que exige roupa adequada como terno e gravata para a ocasião. Mas o referido personagem não estava nem aí para que trajava e sentou meio despojadamente na cadeira. Perguntei ao Vice-Presidente empossando quem era aquela pessoa e ele me respondeu:
- O filho do Ministro Nery da Silveira e que está representando o Chefe da Procuradoria-Geral da República do Estado do Rio Grande.
Agradeci e permaneci calado. No entanto o Vice-Presidente concluiu:
- Um petista que inibe o próprio pai!!
Nunca esqueci daquela cena porque fico pensando como deveria estar se sentindo um velho pai com um filho tão diferente e raivoso com a sociedade como pude constatar no seu discurso. Um pai tão digno, ponderado, culto e educado e um filho com ideias e conceitos diametralmente oposto. Não deve ser fácil uma convivência familiar com significativas diferenças ideológicas.
Na referida solenidade ele era igual ao então governador Roberto Requião que fazia questão de comparecer nas solenidades oficiais do Tribunal de Justiça do Estado vestindo traje de montaria -, em total desconformidade com o figurino oficial. Aliás, presentemente, a “moda” dos homens públicos na sua maioria é usar calça jeans, camisa esporte e paletó, isto quando não leva o próprio cachorro para a repartição. Não que o terno e gravata “faça” a autoridade mas é um traje que simboliza respeito ao ambiente de trabalho e aos seus colegas.
Na minha época de MP tinha um único colega que aparecia na Procuradoria vestindo traje que mais parecia pijama, mas quando participava das sessões das Câmaras Criminais do TJ não dispensava o terno e gravata. Por quê? É bom não querer explicar para não ser grosseiro e indelicado com um colega de saudosa memória. Mais recentemente na minha condição de Mediador no Setor de Mediação de Conflitos do TJ, tenho feito audiências com advogados que trajam endumentária que ninguém acredita, como se a repartição pública fosse a extensão da casa da sogra.
Finjo que não vejo para não ser pernóstico e chato, pois o intuito da audiência é conciliar e nada mais. Em um debate que participei na Universidade Positivo com dois professores da faculdade de Direito da Federal, estes estavam de manga de camisa e tênis e os alunos idem. E quando me aposentei aos 70 anos de idade, embora ainda com fôlego para judicar, logo me convenci quando colocava a cabeça no travesseiro para dormir que pelos hábitos atuais era melhor mesmo vestir o pijama e dar a missão como cumprida. Porque não é fácil conviver com os próprios pares quando os costumes não são mais os mesmos…
“Tudo tem o seu tempo certo mas o respeito ao ambiente de trabalho deve ser sempre o mesmo. O traje não faz ninguém mas impõe autoridade e denota respeito. E é sempre bom respeitar para ser respeitado”
Edson Vidal Pinto
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